7/28/2003

O SÍNDROMA DA NOVA ZELÂNDIA

Reflecti bastante antes de me decidir pelo título desta crónica. Não quero criar qualquer clima de pânico entre os meus concidadãos. Este síndroma nada tem a ver com esse fumador inveterado que noite e dia expele baforadas do lado de baixo da linha do caminho de ferro. Advirto no entanto que este síndroma é contagioso. Segundo estudos publicados recentemente por reputadas revistas de cariz científico é provável que este contágio se dê por mimetismo, por uma reacção psicossomática.

Pela manhã, os pacientes dirigem-se freneticamente ao transporte que os leva ao seu local de trabalho, invariavelmente de cabeça baixa e ritmo sincopado, percorrendo sempre as mesmas artérias, de forma automática, sem qualquer recurso aos sentidos. Aparentemente não falam, não ouvem, não cheiram, não degustam nem sentem.

Voltam à noite, ainda mais prostrados e insensíveis, procurando compulsivamente os seus casulos de onde só saem para a recolha de víveres, numa corrida envergonhada ao posto de abastecimento mais próximo, e graças às maravilhas da tecnologia moderna, só necessitam de olhar de soslaio o mostrador que em tons de verde huxley anuncia ?3,87?, obrigado? e esticar o cartão de consumo. Voltam apressados aos seus casulos, quais coelhinhos da Alice no País das Maravilhas. No estádio mais avançado é possível nem sair dos casulos e encomendar os víveres pelo telefone ?Se pretende uma pizza simples, carregue no 1; se pretende uma pizza com queijo e chouriço, carregue no 2; se pretende uma pizza paquistanesa, carregue no 3?. Quase de imediato, um rabanete zumbidor e motorizado faz a entrega. Metidos nos seus casulos, os pacientes enroscam-se confortavelmente em frente ao seu televisor. Talvez por isso e em situações de crises agudas da doença ficam confundidos quando abrem as janelas e por momentos não sabem se o que vêem é um filme ou a realidade, similar aos momentos em que acordamos no meio de um sonho. Por profilaxia muitos deixaram pura e simplesmente de abrir as janelas.
nova zelândia
Apesar da gravidade, alguns investigadores admitem a possibilidade de cura. Acham que o autismo é apenas aparente. Que no fundo, bem no fundo, os pacientes falam, ouvem, cheiram, degustam e sentem.

Também tenho essa convicção ou se quiserem e dado que não sou cientista nem investigador, essa fé.

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