10/24/2003

No último fim-de-semana fui a um bar tão "retro", tão "retro" que os empregados de mesa faziam questão em encher o meu cinzeiro de beatas

10/12/2003

A DIFÍCIL ARTE DE SER PAI (OU MÃE, QUE NESTES TEMPOS DE FAMÍLIAS MONOPARENTAIS TEMOS QUE SER POLITICAMENTE CORRECTOS)



Confesso que já andava preocupado, com a minha auto-estima abalada porque, apesar de quinzenalmente assinar estas "crónicas", não tive, até agora qualquer correspondência por parte dos leitores, se exceptuarmos aquele canídeo que me escreveu numa das primeiras edições.

Ora esse facto, para um narcisista assumido como eu sou, é uma espécie de enxaqueca permanente, uma moínha que se vai adensando.

Felizmente as minhas preces foram ouvidas e um leitor preocupado escreveu-me, pelo que passo a transcrever as suas linhas:


Caro Sr. Nuno Augusto,

Sou pai de um rapaz que no próximo mês de Novembro vai fazer 16 anos e no último fim-de-semana fiquei surpreendido quando ele me pediu para termos uma conversa. Comecei por pensar que a "conversa" iria ser sobre o sexo feminino, mas depressa me apercebi que a coisa era bem mais grave. O rapaz entregou-me uma lista intitulada "As cenas que eu preciso para ir para a escola" e declarou-me que ou eu lhe comprava tudo aquilo ou ele ia "bufar" à mãe (minha esposa) as minhas saídas aos sábados à noite. Devo confessar-lhe que não faço nada de mal aos sábados à noite. Limito-me a ir com a rapaziada do café a um bar ali para os lados de São João da Talha, ver uns shows de strip-tease, mas só vou para não parecer mal, para que a malta não comece com "bocas", pois não aprecio aquele género de mulheres, gosto mais da portuguesa, pequenina e roliça, se bem me entende. Tive vontade de lhe dar uma bofetada, mas contive-me. E pûs-me a olhar para a lista: um telemóvel com sons polifónicos (não digo a marca porque é proibído, não é?), um portátil (explicou-me que era um computador para andar de um lado para o outro) um conjunto de roupas com marcas estrangeiras (perguntei-lhe se era a farda da escola, respondeu-me com um seco "és mesmo um cota básico") e um pricing, um pressing, perdão, um peircing (pela explicação é uma bugiganga de metal que os miúdos cravam ao corpo). Preço total: quase 3.000 euros. E livros, perguntei eu. Isso também pode ser, mas só quero se a mala for (disse uma marca qualquer, estrangeira), respondeu. E avisou-me desde logo que assim que fizesse os 16 queria uma mota, porque já não era nenhum chavalo para ir para a escola de camioneta. Estou banzado, Sr. Nuno. Nunca pensei que dar uma educação aos nossos filhos fosse assim tão caro. Nem que para aprender português fosse preciso uma mota. Estou definitivamente a ficar velho e ultrapassado. E com isto tudo lá se vai o dinheiro que andei a poupar para ir com a minha Joaquina a Benidorm. E não me chega. Pergunto-lhe, Sr. Nuno, o rapaz ainda agora vai no 8º ano, pois já chumbou algumas vezes, o que me vai pedir quando chegar ao 12º? Um helicóptero por causa do trânsito?

António José Silva
Pai


Pois bem, Sr. Silva, devo esclarecer-lhe uma coisa: não tenho filhos e por isso, embora solidário consigo, ainda não vivi essa experiência. Faço é votos para que o seu rapaz acabe o secundário e entre no ensino superior, tire um curso, mesmo que seja uma engenharia de que ninguém ouviu falar e consiga arranjar um emprego. E tenho a certeza que se lhe comprar todos os itens da lista ele estará preparado para o mercado de trabalho. Ou melhor, como dizem agora, para um nicho do mercado. Algures entre uma loja de roupa num centro comercial e uma oficina de motas. Que é um nicho tão bom como qualquer outro, claro.