7/28/2003

O BOM SAMARITANO




A vida moderna tem destas coisas: metem-nos em caixotes e obrigam-nos a falar com os vizinhos. Criou-se essa figura sinistra conhecida por assembleia de condóminos.

Encontro-me em conflito com um vizinho, um tipo execrável, o Rashid, que bate na mulher. Pior ainda, fui eu que apresentei o tipo à mulher, pois pareceu-me, na altura, o indivíduo certo e antes que um outro vizinho se insinuasse, resolvi propiciar o romance. A Munira (é esse o nome da ofendida) tem uma bela vinha e com o casamento juntei o útil ao agradável: tinha um tipo de confiança para controlá-la e bebia o vinho à borla. Esta prática é aliás corrente no prédio. O Pierre, por exemplo, vizinho do 4ª esquerdo, de vez em quando expulsa o marido da jovem negra que assegura a higiene do prédio, aproveitando para passar lá umas noites e deliciar-se com os acepipes que ela tem no frigorífico. Um ?bom vivant?!. Já o John, vizinho do 5º direito, incapaz de se manter amantizado com metade do prédio, resolveu recolher ao seu apartamento e passa o tempo a cravar-me vinho, azeite e senhas de gasolina.

Propus na assembleia de condóminos que o Rashid fosse expulso, alegando a inadmissibilidade da violência doméstica nos tempos que correm. Na verdade pouco me importa se a Munira é agredida ou não. Sou um fervoroso defensor do principio ?entre marido e mulher, não metas a colher?. Estou é farto de acompanhar as minhas refeições com coca-cola. Quero o vinho! Além do mais estou convencido que mais vale um marido que saiba manter o respeito que outro que permita que a sua mulher faça o que bem entender. E nesta perspectiva mantenho com alguns maridos truculentos uma boa relação de vizinhança. Podem bater na mulher, mas só na medida do necessário e mediante uma pequena comparticipação em géneros para a minha dispensa, para que eu possa verificar se os fins justificam os meios.

Já avisei os restantes condóminos: qualquer dia farto-me de beber coca-cola e entro pela casa a dentro da Munira, dou uma carga de porrada no Rashid, corro com ele, coloco no seu lugar o Mohamed, um empregado meu de confiança, mas o vinho fica só para mim!

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