7/28/2003

UM GRANDE FURO

Meus caros leitores, tenho uma confissão a fazer: sou agnóstico. Para ser absolutamente preciso, não acredito em nenhuma das divindades que até agora me foram apresentadas, mas não fecho a porta a posteriores revisões nesta matéria, até porque esta minha incipiente tentativa de jornalismo tem sido até agora bafejada, pela sorte. Tal sorte propiciou-me o objecto desta crónica. Estava eu em alegre passeata por esse magnífico exemplar do arrojo urbanístico, da “avant-garde” em conceptualismo paisagista chamado Jardim Municipal da Quinta da Piedade, quando reencontrei um velho amigo de infância. Depois das efusivas celebrações, explicou-me que tinha emigrado para América (apaziguando de vez o remorso que eu senti durante mais de 20 anos, pois julgava-o ainda de castigo, depois de ter entrado em grande velocidade pelo posto do leite, em cima de um carrinho de rolamentos especialmente preparado por mim, provocando grandes estragos) onde conseguira especializar-se em informática. Trabalha actualmente na Microsoft e trata o Bill Gates por tu. Disse-me então que estava de volta à sua terra de origem para se inspirar na feitura de um novo jogo de computador. Senti-me orgulhoso, quase pairando de tanto ar inspirado. A minha terra objecto de um jogo de computador!
Passados alguns meses recebi pelo correio o cd com o jogo, que gentileza a sua. E é mesmo desse jogo, que promete dar ainda muito pano para mangas, de que vos gostava de falar. O jogo chama-se Póvoa Wreck I. Que excitação! Rasguei o invólucro e enfiei o cd na drive. Abriu-se-me então um vasto leque de opções.
Em primeiro lugar, era necessário escolher o tipo de veículo. A opção era entre um pequeno automóvel, de vidros fumados e escape gigantesco, com um relâmpago desenhado no capot e um enorme jeep de tracção às quatro rodas. Se escolhêssemos o primeiro, o nosso alter ego virtual seria Hillbilly Joe, que traduzo livremente por Zé Parolo. Se a nossa escolha recaísse sobre o segundo, encontraríamos como condutor um tipo anafado, de meia-idade, chamado Supposed Yuppie, isto é, julgo eu, o Executivo da Tanga.
Cabe-nos depois a selecção do circuito. Temos várias hipóteses. A primeira é a Vicente Valent’s Circus e corresponde à avenida circular da Quinta da Piedade. Temos também a National Road, correspondente à EN10. Mas o melhor mesmo é o Up and down in the town, isto é andar às voltas.
Vamos então começar...com um arranque barulhento. Aqui vou eu a acelerar, avenida acima.
Instruções (botão F1):
Acertar num cão, 10 pontos.
Acertar num peão, 20 pontos.
Acertar num peão em cima de uma passadeira, 50 pontos.
Ena, grande pinta!
Pedem-nos, neste momento, que seleccionemos a música de fundo. Bem alta, claro!
Vou dar uma voltinha a uma das pracetas. Estaciono o carro bem no meio da praceta e carrego no botão fire in the house. Um prédio está a arder e aí vêm os bombeiros. Deixa-me cá estacionar bem o carro senão os bombeiros ainda conseguem entrar na praceta. Já está! Que grande confusão! Os bombeiros bem tentam mas não conseguem entrar. Vou-me embora ou ainda se lança mais alguém pela janela
Entro na Estrada Nacional e aqui sim, dá para carregar no pedal a valer! Já marca 100 km/h! ADRENALINA!!!!! Mais um cheirinho e conseguia apanhar o velhote. Fica para a próxima. Afinal é a primeira vez que estou a jogar.
Vou até perto da estação de comboios. Aqui é que é giro! O autocarro da rodoviária cheio de pessoal e eu estacionado mesmo no meio da rua. Este jogo está mesmo bem concebido! Até dá para ver a cara pesarosa dos utilizadores do autocarro! Vamos seguir. Aí vai um pacóvio de bicicleta...só um susto, para o abanar e aprender que a rua é para os carros. Já está! Prego a fundo avenida acima, na esperança que algum transeunte apareça por detrás dos inúmeros camiões estacionados. Nada. Ora bolas!
Vou até ao café beber umas imperiais. Paro a máquina à porta do café e meto o som no máximo. ‘Tá-se bem... Só preciso chamar um amigo para jogarmos na versão Two Players, quer dizer, ao despique. Aí é que vai ser mesmo louco, a ver quem comete mais infracções e quem consegue assustar mais pessoas. Um traumatismo craniano vale 100 pontos!
O jogo está de facto magnífico, embora pouco realista, já que é por demais conhecido o bom senso dos portugueses ao volante. Ninguém podia ser tão obtuso, mas, sabem como é, para vender é preciso dourar a pílula. É óptimo para descontrair, depois de um dia a trabalhar e de horas perdidas no trânsito.
Se quiserem experimentar o jogo é só enviarem o vosso pedido para tiagomascarenhas@vizzavi.pt, e eu envio-vos o sítio onde podem fazer o download da demo em versão shareware, claro.

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