EFFICIENTIA IMPERII (EM LATIM MACARRÓNICO)
As recentes polémicas sobre as Pescas e a Política Agrícola Comum, levantam diversas questões pertinentes, para além do óbvio aproveitamento da questão, por parte daqueles que gostam de levantar velhos e atávicos fantasmas contra um possível iberismo.
A questão fundamental prende-se com o conceito de sociedade que está subjacente a todas estas medidas. Esse conceito funda-se no princípio da eficiência que proclama que cada um deve fazer aquilo que faz melhor e defende por isso a divisão internacional do trabalho.
Trocando por miúdos: esta teoria defende que seríamos todos mais eficientes, logo mais felizes se não perdêssemos tempo a fazer coisas para as quais não temos jeito nenhum. Assim, levando este princípio ao seu ponto óptimo, o Brasil só devia produzir telenovelas e jogadores de futebol, os japoneses dedicar-se-iam à produção de electrodomésticos e afins, os caboverdianos à estiva, a Inglaterra seria uma gigantesca casa de apostas e a França uma queijaria enorme. Presumo que Portugal se tornaria num gigantesco aeroporto onde, no intervalo das apostas, velhos reformados ingleses desembarcariam, rumo à praia.
Esta teoria é tão estúpida como o marxismo. As teorias sociais, por muito díspares que sejam nas conclusões, têm que partir de um princípio: a natureza humana. E da premissa que todo e qualquer homem tem uma multiplicidade de interesses, que é da sua própria dificuldade em concretizá-los, ou seja, da sua ineficiência, que surgiram, surgem e surgirão os avanços da Humanidade. Aplicada esta teoria, esgotar-se-ia qualquer possibilidade de Camões ser escritor. Seria um bagageiro no aeroporto da Portela e estou a imaginá-lo a carregar as malas de um balofo e rubro reformado inglês, e arfando diria ?Soul my gentile one, that you broke yourself so early of this life discontents...? ao que o inglês, na sua infinita bondade paternalista responderia ?Poor man! So young and already widower! They die early here in the South! Take two pounds to make your wife?s grave.?. E Eusébio seria um eficiente apanhador de castanha de cajú.
Quem constrói estas teorias, apartadas de qualquer realidade, não consegue entender que eu, quando canto ou quando toscamente faço uma fisga, não pretendo que ela seja eficiente e que provavelmente sem fazer a fisga inútil não terei vontade de desempenhar uma função socialmente útil. Que só a noção de que sou um escritor medíocre me dá alento para continuar a escrever, procurando sempre melhorar.
Além de que a vida nesta sociedade eficiente seria uma chatice tremenda. Já imaginou o leitor vestir todos os dias roupa feita com a melhor lã neozelandesa, a almoçar invariavelmente carne argentina com arroz chinês, regada com coca-cola, 365 dias por ano?
Mas a justiça divina ou a justiça humana reservaram um paradoxo cruel para os cultores desta teoria da eficiência: fundada na necessidade de liberdade do Homem, a sua concretização levaria exactamente ao fim dessa liberdade. Neste mundo hiper-racional, todos escolheriam a mesma coisa para determinada função, ou simplesmente não escolheriam, limitar-se-iam a aceitar aquilo que o critério objectivo da eficiência determinasse. Perante este cenário, todas as formas de totalitarismo que já tivemos, ao longo da história, parecem-me singelas e garridas ditaduras caribenhas.
A questão fundamental prende-se com o conceito de sociedade que está subjacente a todas estas medidas. Esse conceito funda-se no princípio da eficiência que proclama que cada um deve fazer aquilo que faz melhor e defende por isso a divisão internacional do trabalho.
Trocando por miúdos: esta teoria defende que seríamos todos mais eficientes, logo mais felizes se não perdêssemos tempo a fazer coisas para as quais não temos jeito nenhum. Assim, levando este princípio ao seu ponto óptimo, o Brasil só devia produzir telenovelas e jogadores de futebol, os japoneses dedicar-se-iam à produção de electrodomésticos e afins, os caboverdianos à estiva, a Inglaterra seria uma gigantesca casa de apostas e a França uma queijaria enorme. Presumo que Portugal se tornaria num gigantesco aeroporto onde, no intervalo das apostas, velhos reformados ingleses desembarcariam, rumo à praia.
Esta teoria é tão estúpida como o marxismo. As teorias sociais, por muito díspares que sejam nas conclusões, têm que partir de um princípio: a natureza humana. E da premissa que todo e qualquer homem tem uma multiplicidade de interesses, que é da sua própria dificuldade em concretizá-los, ou seja, da sua ineficiência, que surgiram, surgem e surgirão os avanços da Humanidade. Aplicada esta teoria, esgotar-se-ia qualquer possibilidade de Camões ser escritor. Seria um bagageiro no aeroporto da Portela e estou a imaginá-lo a carregar as malas de um balofo e rubro reformado inglês, e arfando diria ?Soul my gentile one, that you broke yourself so early of this life discontents...? ao que o inglês, na sua infinita bondade paternalista responderia ?Poor man! So young and already widower! They die early here in the South! Take two pounds to make your wife?s grave.?. E Eusébio seria um eficiente apanhador de castanha de cajú.
Quem constrói estas teorias, apartadas de qualquer realidade, não consegue entender que eu, quando canto ou quando toscamente faço uma fisga, não pretendo que ela seja eficiente e que provavelmente sem fazer a fisga inútil não terei vontade de desempenhar uma função socialmente útil. Que só a noção de que sou um escritor medíocre me dá alento para continuar a escrever, procurando sempre melhorar.
Além de que a vida nesta sociedade eficiente seria uma chatice tremenda. Já imaginou o leitor vestir todos os dias roupa feita com a melhor lã neozelandesa, a almoçar invariavelmente carne argentina com arroz chinês, regada com coca-cola, 365 dias por ano?
Mas a justiça divina ou a justiça humana reservaram um paradoxo cruel para os cultores desta teoria da eficiência: fundada na necessidade de liberdade do Homem, a sua concretização levaria exactamente ao fim dessa liberdade. Neste mundo hiper-racional, todos escolheriam a mesma coisa para determinada função, ou simplesmente não escolheriam, limitar-se-iam a aceitar aquilo que o critério objectivo da eficiência determinasse. Perante este cenário, todas as formas de totalitarismo que já tivemos, ao longo da história, parecem-me singelas e garridas ditaduras caribenhas.
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