7/28/2003

LA VALISE DE PANDORA


Caros leitores,

Os mais atentos já repararam que mantenho diversas actividades. Não serei propriamente biscateiro (o que é uma falha na minha portugalidade), mas tenho a minha dose de loucura e poesia, pois claro.

Talvez inspirado pela pop-culture que povoou a minha infância e juventude (o meu primeiro símbolo sexual foi a Pipi das Meias Altas) tenho dedicado os meus poucos tempos livres à descoberta de coisas raras, espécie de Indiana Jones de trazer por casa.

Pois bem, levado pelo senso prático e na impossibilidade de explorar longínquas ilhas da Micronésia, resolvi aventurar-me nos esgotos de Lisboa. Mas perguntará nesta altura o leitor: que estranha pista terei seguido? Posso garantir-vos que não segui as indicações de nenhum papiro ou manuscrito antigo; limitei-me a estar atento à comunicação social e aos boatos que vão circulando.

Embrenhei-me então pelos esgotos da Capital e seguindo apenas o meu instinto, finalmente descobri aquilo que muitos diziam existir mas que ninguém ainda tinha visto: A Caixa!

Cravada no lodo, com a tampa entreaberta e exalando um cheiro ambíguo, doce e cálido, mas ao mesmo tempo repelente, a origem de todos os males estava ao alcance da minha mão. Pareceu-me ouvir uma música ao longe, procurei apurar os sentidos...seria o ?addicted to love?? Eu estava perto da Câmara de Lisboa, se calhar a música vinha do gabinete presidencial...ou então era apenas confusão mental da minha parte, devido à excitação.

Nervoso, debrucei-me sobre a caixa e empurrei a tampa. O seu interior confirmava todos os meus temores. Dentro da caixa estavam outras pequenas caixas, de dentro das quais saíam periodicamente todos os males que conspurcam a nossa sociedade. Lá estava a caixa dos políticos, com uma caixinha ainda mais pequena lá dentro, com o rótulo autarcas; ao lado a caixa dos funcionários públicos, dos futebolistas, dos advogados, dos que fogem ao fisco, dos aceleras, dos polícias. A náusea impediu-me de continuar a ler os rótulos. Estava confirmada a suspeita levantada, nos jornais e na televisão, nas ruas e nos cafés, por todos esses homens de bom senso, pelos verdadeiros patriotas: todos os males que corrompem o nosso país, os nossos novecentos anos de glória, são provocados por entes que, embora aparentando ser portugueses como nós, são afinal criaturas geradas na maldita caixa.

Está pois justificado o discurso de todo o português honesto e íntegro, que quando se refere a essas criaturas diz sempre: os políticos, os futebolistas, etc.. Aquilo que aparentemente era ilógico, pois essas ?pessoas? seriam, presumia-se, cidadãos como nós, os puros, era afinal uma manifestação de um instinto visceral, de uma certeza íntima de que o mal provinha de algo externo, de algo que sendo antropomórfico, tinha uma substância radicalmente diferente da nossa portugalidade.

Só ainda não descobri quem ali colocou a caixa. Mas todos os indícios apontam para os Castelhanos.

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