7/31/2007

O QUE FAZER COM ESTE PARTIDO? (RASCUNHO)


(Este texto é uma versão ainda não revista)


O PSD é um partido peculiar. Por um lado é um partido à moda antiga, federador de diversas tendências, de um conjunto de pessoas que não se reviam no socialismo trop gauche do PS pós-PREC. No seu seio militam social democratas, conservadores, democratas-cristãos e liberais. Por outro lado é um partido contemporâneo por isso mesmo, pela sua elasticidade ideológica.

A história do PSD deve ser contada lado a lado com a história do PS.

Para que se perceba exactamente a encruzilha em que o partido se encontra hoje e que não se resume a um problema com o seu líder.

Nos primeiros anos de democracia, enquanto o PS se encostou à esquerda democrática, estancando o eventual avanço do PCP, o PSD defendia uma maior iniciativa privada e uma menor intervenção do Estado. No entanto, se hoje analisarmos os factos, rapidamente se conclui que não existia, já naqueles momentos, uma diferença ideológica profunda, antes e só uma diferença de grau.

Mesmo que se defenda que dentro do PSD sempre existiram outras correntes para além da social democracia, a praxis política sempre demonstrou uma social democracia pura e dura.

Deve-se em parte ao PSD (e uma boa parte, diga-se) a actualização das estruturas sociais do País à realidade contemporânea. Em resumo, as bases de uma sociedade social democrata de tipo ocidental foram construídas (também) pelo PSD.

Só que ao mesmo tempo o PS fazia um lento aggiornamento da posição inicial, ou melhor, da sua praxis inicial, enquadrando-a no socialismo democrático (ou na social democracia, o que vai dar praticamente ao mesmo). A terceira via foi só o último sinal desse update.

Curiosamente foi Cavaco Silva que “percebeu”, na forma muito peculiar de perceber as coisas que o caracteriza, ou anteviu o futuro, ao anunciar o “fim” da esquerda e da direita. Descontando a imprecisão, a actualidade prova que Cavaco tinha razão.

A esquerda e a direita não acabaram, mas PS e PSD ocupam o mesmo espaço político e sensivelmente o mesmo espaço ideológico. O PSD, entretido com mais de uma década de poder, não só não se apercebeu do reposicionamento do PS, como pura e simplesmente fez cessar o debate indispensável dentro de um partido em que convive a estrita necessidade do poder para manter a coesão interna, com óbvias diferenças (e incompatibilidades) ideológicas dos militantes.

Como o PSD é um partido de poder e em Portugal poder significa Estado, torna-se inviável e até contraproducente que a ala liberal (passe a ironia) do PSD consiga tomar conta (pelo menos ideologicamente) ou sequer contar para alguma coisa dentro do partido.

O PS canibalizou o PSD. De uma forma cruel. Como a política é hoje personalizada, ou melhor, “pessoalizada”, isto é, é uma política centrada em protagonistas, basta ao PS apresentar um líder mais credível para ganhar. Ou vice-versa.
Claro que ficam de fora as ditas franjas de ambos os partidos. No PS essa “tendência” é actualmente representada por Alegre, agarrado ao PS de 76. No entanto e bem vistas as coisas, as alegadas diferenças, com excepção do esquerdismo retrógado de Alegre, dentro do PS resumem-se a questões de pormenor e de protagonismos pessoais, raramente ideológicos. Confundir isto com pensamento único é tão só errado. As “franjas do PSD têm, por assim dizer, aptidão para criar um verdadeiro partido de direita em Portugal, ou em alternativa, um verdadeiro partido liberal. Em última análise, para criar os dois. Só que isto reduziria o PSD a um Partido minoritário e obsoleto. Ninguém está disponível, pelas boas e pelas más razões, para o fazer. A fusão de ambos os partidos é pura e simplesmente impensável.

Além de que não se chega ao pé de um militante e se diz: o meu amigo desculpe, mas chegamos à conclusão que não existimos e vamos fechar a loja.

O PSD hoje só existe por tradição, por hábito e não por qualquer diferenciação ideológica relevante do PS. Apesar deste absurdo, o PSD não vai acabar, porque os partidos não se resumem a esta “lógica formal”.

Marques Mendes é apenas uma ressaca. Vamos ver se a abstinência não deixa marcas bem profundas e irreversíveis.


Um guarda florestal espanhol, descontente com o fim do seu contrato de trabalho, incendiou as Ilhas Canárias.

Espero que ninguém se lembre de despedir nenhum guarda das centrais nucleares espanholas.

7/27/2007

HÁ UM FASCISTA DENTRO DE TODOS NÓS, MAS DENTRO DE ALGUNS NÃO HÁ MAIS NADA




A propósito disto

Será que nenhuma das cabecinhas bem pensantes que hibernam no ministério da educação percebeu que a memória é um bem essencial?

Será que ainda não se percebeu que o país pós-integração europeia é uma coisa frágil, com pés de barro enfiados em sapatinhos chineses?

Que há 40 anos, Portugal era um país a sair da ruralização, atrasado, ignorante e obscurantista?

Seria pedir muito que passassem profusamente nas escolas o programa do António Barreto (para lá da discussão sobre a sua qualidade) ou pelo menos fizessem um programa que mostrasse aos filhos do cavaquismo (para lá da responsabilidade pessoal de Cavaco) como viveram os seus pais e os seus avós?

O NOVO DIRECTOR-GERAL DO UMBIGO




Gente das Direitas e alguns das Esquerdas estremeceram de contentamento quando o Sr. Sarkozy foi escolhido como novo presidente da França.

Até porque o homem, passadas as necessidades estratégicas de flirt com a direita mais recalcitrante, mergulhou na 3ª via.

Alguns espíritos menos atentos rejubilaram com a nova aquisição, convencidos que Sarkozy seria um novo Blair.

O seu programa é mais uma tentativa de ter o melhor de dois mundos, seguindo também nisso Blair.

Sarkozy até pode ser melhor que Blair, digamos um upgrade de Blair.

Nada altera o problema de fundo.

Sarkozy é o presidente de um país que há muito só existe na cabeça dos franceses. Que há muito deixou de ter qualquer relevância cultural, social e civilizacional na Europa.

A história da França na Europa é esclarecedora. Sendo impossível pô-los fora por causa da sua localização geográfica, os franceses têm mantido o seu status quo à conta disso, com e sem cadeiras vazias. Perderam o império, mas continuam a comportar-se como um Império. Perderam a liderança intelectual da Europa e ressentidos com aquilo que consideram ser a falta de reconhecimento da sua superioridade, olham todos os outros com desprezo.

Naquilo que constitui a vida quotidiana dos europeus, não há um único símbolo francês da cultura pop. Um livro, um cantor, uma ideia. Nada.

A selecção francesa de futebol tinha nomes tão franceses como Zinedine Zidane ou Djorkaeff.
O Tintin, ou Jacques Brel são belgas.

A última encarnação de Marianne, Laetitia Casta, é um bocado de plástico deslavado, comparada com as antecessoras Deneuve e Bardot.

Não é um país. É um umbigo gigante.

Ora não me parece que Sarkozy seja o homem que do Eliseu diga, alto e bom som diga aquilo que os franceses precisam de ouvir.

Que o império acabou, que a França não é referência para ninguém em nenhuma parte do mundo a não ser em França e que o nível de vida dos franceses só se tem mantido com recursos a meios que a ética apregoada pelos próprios condena.

Sarkozy não o vai fazer, simplesmente porque se o tentasse era rapidamente engavetado no Hospice de Bicetre.

7/26/2007

O TRIBUNO

Alegre tem direito às opiniões contrárias, a divergir, etc., etc. Tem direito a tudo, mesmo a trair a sua própria memória quando insinua comparações descabidas.

A história política de Manuel Alegre é a história de muitos portugueses. Ou pelo menos segue o mesmo padrão.

A seguir ao 25 de Abril e abortada a tentativa de bolchevização do país, sonhou com um país ideal, retalhos de um lado e de outro a que se juntava muita imaginação e diletantismo. Nada no passado recente ou no futuro minimamente previsível faria supor que tal país fosse possível.

E mesmo que fosse possível, as opções das pessoas desmentiram que fosse desejável.

É nesse país impossível, feito de homens bons e fraternos, de políticos que com uma palavra apenas poriam o mais recalcitrado indolente a trabalhar que nem um louco, que do alto de uma tribuna transformariam as relações sociais velhas de séculos, essa ideia que a democracia, pela sua natureza intrínseca triunfaria, que vive Manuel Alegre.

Muitos socialistas consideram-no uma espécie de reserva moral do Partido. Ora, Alegre não é nenhuma reserva moral simplesmente porque a moral não se prega, pratica-se.

No caso, pratica quando lhe convém. Porque nunca recusou as benesses da classe política (o argumento de que nunca aceitou um cargo no Governo é lamentável num homem que pretende ser intelectualmente sério), sempre conviveu razoavelmente bem com o aparelhismo, com a troca de favores e mais grave, com o populismo, a demagogia e o caciquismo (como no caso da co-incineração).

Manuel Alegre vive hoje no Pais que sonhou em 1976, em conjunto com um punhado de gente bem intencionada e levemente paternalista.

Lamento que cada vez mais seja visto como uma criatura anacrónica, olhada do lado de cá do espelho, com uma certa curiosidade que rapidamente se transforma em enfado.

Como diz o boneco do contra, a Manuel Alegre ninguém o cala. O problema é que eu já não tenho grande paciência para o ouvir.


O caso charrua é apenas um caso tornado público porque na guerrilha “milenar” que os aparelhos (sobretudo do PS e do PSD) uma das partes resolveu lançar mão de um mecanismo pouco utilizado.

Nesta guerra de bolso que nos últimos trinta anos caracterizou a administração pública e lhe minou por completo (entre outras razões) a possibilidade de servir para o objectivo constitucionalmente determinado, o cenário é simples.

De um lado estão os aparelhos locais e distritais do partido dominante. Enchem tudo quando é repartição e departamento dos seus, que fazem a vida negra às tropas do partido da oposição.

O medo dos funcionários públicos que se fala é de dois tipos. Por um lado o medo dos incompetentes que os partidos foram despejando na administração pública. Têm medo que, passando a ser avaliados, sejam politicamente saneados e não apenas prejudicados nos seus cargos e benesses. Por outro lado há o medo de quem, nunca tendo estado sujeito a qualquer avaliação minimamente rigorosa, teme que seja avaliado por um quadro político que o lixe.

Mas o medo é sobretudo desta gente que há anos pulula na administração, com base em nomeações políticas.

Até agora a guerrilha consistia em tabefes nos adversários quando se estava na mó de cima. Da parte passiva, o papel era suportado com galhardia, pois como o sistema é rotativo, o agredido de hoje é o agressor de amanhã. Mas tirando umas escoriações, uns telemóveis retirados e uma ou outra benesse cortada, tudo corria na perfeição.

Não conheço o sr. charrua ou a sr.ª moreira e por isso não posso afirmar que podem ser tipificados como boys.

Claro que o Prof. Charrua (que não dá aulas há 2 décadas) e a Dr.ª Moreira (com aquelas poses da tipa esperta e bem falante que espremida deita duas gotinhas) são óptimos candidatos ao que se chama boys.

É por isso que acho graça a muitos dos que tem comentado esta situação como algo de novo. Como uma claustrofobia. Primeiro porque muitos deles conhecem bem melhor que eu a partidarite e o aparelhismo. Aliás, muitos nomeiam ou nomearam boys.

Porque a única diferença entre esta situação e as milhares que se passam na administração pública é que em vez de uma chapada ou de um carolo, tentou dar-se um pontapé no rabo do visado.

E isso vai contra as regras cénicas em vigor. Podem puxar os cabelos, fazer uma rasteira ou vá lá, puxar uma orelha. Mas não deixar marca.

Esta gente, estes quadros dos partidos que há anos invadem a administração pública, passam por diversos cargos sempre sem qualquer escrutínio sério são um dos cancros do país.

Fazer de um arrufo local entre dois membros dessa confraria assunto nacional, só porque um deles abusou da dose habitual, sem se discutir e relevar que o importante seria limpar de vez a Administração Pública é apenas uma forma retorcida de manter tudo como está.

WOLVERINES DEPILADOS


O Público surgiu, no início da década de 90 do século passado, como um jornal inovador, rigoroso e “moderno”.

Por mais indeterminados que sejam alguns dos conceitos acima referidos, ficou clara a vertente liberal e a imagem contemporânea do jornal.

Com melhores ou piores cronistas, melhor ou pior grafismo, o Público foi ganhando o seu espaço e a sua credibilidade.

Acontece que o jornal teve azar.

Teve o azar de o seu principal accionista ter perdido uma batalha, que em termos simbólicos, significou uma derrota daquilo que o jornal (e o seu accionista) sempre defenderam: Uma sociedade forte e um Estado menos intrusivo.

A partir desse momento o público, tendo à cabeça José Manuel Fernandes, desencadeou uma guerra sem quartel contra o actual governo.

O mesmo Público que antes se enamorara por José Sócrates (como aliás boa parte da comunicação social) morde-lhe hoje as canelas.

Para ser bastante claro: Sócrates tem muitos pontos fracos e fragilidades claras. Erra. É teimoso.

Mas isso não justifica que um jornal rigoroso como o Público pretende ser, ataque permanentemente e de forma idêntica um erro grave e um fait divers mais ou menos infeliz do governo.

Não estou a falar do diploma ou sequer do caso charrua.

Estou a afirmar que existem indícios claros de que o Público se deixa utilizar para ataques ao governo e que um jornal de referência não pode baixar o seu nível só porque o seu principal accionista ficou chateado com o governo ou porque a redacção chegou à conclusão que o governo afinal é um bluff.

Um jornal sério e rigoroso não pode guardar notícias para a melhor ocasião, não pode publicar hoje rumores que ignorou ontem, só porque hoje não acredita no Primeiro-Ministro.

É-me absolutamente indiferente se o eng.º Belmiro falou com José Manuel Fernandes ou não, se lhe deu instruções ou não, até porque não faço parte da CMVM.

José Manuel Fernandes nem sequer precisava disso para iniciar a guerrilha. Estamos a falar de um wolverine. Depilado, mas de dentinhos e garras afiados.

Como na política, no jornalismo as aparências contam e as coincidências são perigosas.

Temos pena.




7/25/2007

FONDUE DE QUEIJO

Esta já vem com atraso, mas não posso deixar passar


O Dr. Paulo Portas, naquela sua sôfrega necessidade de mostrar a Luz e o Caminho aos portugueses, tem tido alguns revezes.

Espécie de flautista de Hamelin que incapaz de tocar flauta, usa queijo para conduzir os ratos. Mas (e nestes contos há sempre um mas) como é rapaz de boa criação e de generosa fidalguia, em vez de partir o queijo em pedaços, faz um fondue de queijo.

Paulo pensa não poder praticar política prejudicado por perniciosas peças públicas.

Paulo quer que nos esqueçamos que não sendo o pecador original, foi um torquemadazinho bem arrimado nessa fina guilhotina que se chamou “ O Independente”.


NÓS, CONCHAS MEDÍOCRES E BAÇAS À BEIRA-MAR ESPARRAMADAS




Durante anos e anos, dessa criatura solene e obsoleta, escorreu um líquido viscoso e podre, certamente criado no seu ventre inchado, cada vez mais inchado, que de tudo se alimentou, preferindo sobretudo pacotes discretos em numerário.

Na sua ética de clã, todos se alimentaram. Amanuenses analfabetos e sisudos, que nos miravam com a altivez e o desprezo de quem domina, de quem, sem mérito ou competência, pode subjugar o outro. Licenciados em rame-rame ornamentado com frases bacocas, criaturas negando Copérnico, padrecas de fato cheio de caspa.

Todos fizeram pela vidinha. De forma despudorada, não só nada dando em troca, como pactuando, por acção ou omissão, com todo o tipo de trapaças.

Vem agora o Sr. Barata Lopes, Presidente da Ordem dos Notários, resmungar contra o óbvio, contra o evidente, contra o indispensável.

Diz o Sr. Barata Lopes que os cidadãos perdem garantias. Que se facilita a fraude.

Como é que este senhor tem a distinta lata de abrir a boca, de sequer fazer um esgar?!

Todos nós (sobretudo aqueles que pertencem a grupos protegidos) fizemos pela vidinha. Aldrabámos e surripiámos o próximo desculpando-nos com “O Sistema”, “A Burocracia”, ou “A Lei”.

Mas como na história do outro, há uns que surripiaram mais.

E normalmente são os que, devendo estar calados, mais reclamam.

Continuamos conchas medíocres e baças à beira-mar esparramadas.

7/20/2007

LA PALISSE NA LAPA

José Pacheco Pereira com conhecimento de causa, fez ontem uma afirmação trivial, mas que explica, de forma clara, a crise no PSD: Partidos feitos para o poder, quando não têm poder estão sempre em crise.

O resto são amendoins.

PAULO ADAMS

Talvez as notícias que os inimigos do Paulo colocaram nos jornais o tenham prejudicado, como fazem questão de realçar os seus amigos na comunicação social.

Mas acho que esse efeito é marginal.

Simplesmente as pessoas estão fartas do Paulo. Das constantes versões do Paulo.

Do Paulo bronzeado em Fevereiro, do Paulo lívido post-mortem.

Do Paulo ministro empertigado em frente às tropas, do Paulo desajeitado na faina.

Do Paulo com patilhas e sem patilhas. De gravata e sem ela. Do Paulo predador e do Paulo angelical.

Das mil e uma personagens que o Paulo, na sua fértil imaginação e magníficos genes, cria.

E dos amigos do Paulo. Do Nuno sem a profiláctica vacina anti-rábica.

Do Telmo histérico, da Teresinha cor-de-rosa, secretária de estado das tropas hoje, dos museus amanhã.

As pessoas estão cansadas do Paulo e da sua espécie de família Adams.

Sem o humor da original, claro.

DINOSSAUROS COM PELE DE LYCRA

Segundo a TSF (e sem prejuízo de ter ouvido a notícia ainda meio ensonado), os patrões (classe que equivale, pelo menos formalmente ao conceito de empresário nos países civilizados) querem eliminar da Constituição o preceito que proíbe os despedimentos ideológicos.

Por vezes, sobretudo quando os jantares são bem regados e as meninas (ontem de Espanha, hoje da Letónia) especialmente sugestivas, os patrões revelam a carcaça de dinossauro que têm por baixo da pele de Lycra.

Com aquele indisfarçável ar de chicos-espertos modernaços, afirmam que “É assim que se faz na Europa…”.

Curiosamente a Suécia ou a Dinamarca só servem para direitos. O “modelo” é convenientemente amputado dos deveres. Como por exemplo, não gastar fundos comunitários em piscinas, leões de jardim e outras minudências, ou não descapitalizar a empresa para comprar casinhas discretas mas bem equipadas para as amantes. E já agora pagar impostos.

Pelo menos o PC tem a vantagem de, embora metendo aqui e acolá uma gravata e um fatinho de corte rasca, continuar a ser aquilo que sempre foi, sem qualquer pejo: um partido estalinista puro e duro, amigo desse grande democrata da Coreia do Norte. Pelo menos não disfarçam.

Tanto.

NÃO SERIA MELHOR JUNTAR O ÚTIL AO AGRADÁVEL E MANDÁ-LO PARA A LUA?

Seixal, 19 de Julho de 2007. Manifestantes à porta de um centro de saúde reagindo ao fecho do SAP. Panfletos, cartazes e bandeirinhas. A senhora que tem de fazer uns tratamentos (deve ser vampira e portanto, só pode fazer os tratamentos a partir da meia-noite) e que não pode deslocar-se à Amora (ou lá perto).

Enfim. Entre a confusão habitual e alguma razão porventura. Tudo dentro do normal. Até que surge a frase fatídica e com direitos de autor: a luta continua, ministro para a rua!

Meus amigos do kolkhoze do Seixalizistão…

Temos de mudar a frase. Disfarçar a coisa. Fazer de conta que acreditamos na democracia parlamentar, nessa coisa burguesa.

E no caso concreto, juntar o útil ao agradável.

Em vez de mandarmos o Sr. Correia de Campos para a rua, porque não mandá-lo para a Lua?

Porque se o mandamos simplesmente para a rua, ele pode voltar a entrar. Com a desculpa que se esqueceu do chapéu-de-chuva ou da agenda. Barrica-se na casa-de-banho e ninguém o tira de lá. O que não é bom para ninguém, pois o homem, com aquele vício do despacho que afecta todos os que chegam a titulares de cargos públicos, começa a despachar nos rolos de papel higiénico. E imaginem, camaradas, o constrangimento dos funcionários do ministério, divididos entre a urgência provocada pela garrafa e meia de vinho verde do almoço e a incomodidade de estar de costas para o Sr. Ministro e ainda por cima com as mãos ocupadas…e o homem a despachar: nomeio o sr. Armindo Antunes, licenciado em engenharia botânica, sub-director adjunto da região sul para a contratação de fornecedores de pensos rápidos tipo e27 ISO40031. E a telefonar a um dos seus assessores:

- Oh Albuquerque, mas quem é este Antunes, pá?
- É sobrinho do primo do tio do rapaz que está no bar da estrutura local…
- E percebe alguma coisa de pensos rápidos?
- Absolutamente nada, Sr. Ministro! Assegurei-me pessoalmente que não percebe nada de pensos. Vai ficar-se pelo trivial. Perfumes carotes e almoçaradas com o cartão de crédito, uma cadeira nova para o gabinete. Avisei-o inclusivamente que o carro não podia ultrapassar os 2.000cc! Damage control, Sr. Ministro, damage control!
- Ainda bem. Podia ter calhado um tipo que percebesse efectivamente da matéria, com vontade de mudar as coisas, de as tornar racionais e lá tínhamos a estrutura local aos pulos…
- Nada disso, Sr. Ministro! Estamos a falar de um funcionário com uma carreira sólida e exemplar! Já passou pela Segurança Social, pelo Instituto de Emprego, pela Educação, sempre com resultados adequados.
- É por isso que eu gosto de si, Albuquerque! Rápido e eficiente! Como os pensos, veja lá a coincidência.

Camaradas. Temos pois de evitar este tipo de situações. Despachar na casa-de-banho não é adequado, mesmo quando estamos a falar de um membro do governo socialista de direita. Porque o homem acaba por ficar no papel de vítima.

Em vez de gritarmos o slogan habitual, vamos passar a gritar: A LUTA CONTINUA, MINISTRO PARA A LUA.

É que o Socras, com aquela mania das novas tecnologias, acaba por aderir à ideia e o ministro vai ser o primeiro português a lá chegar.

Bem pode o governo mandar foguetes e fazer a festa que já ninguém tira o título de primeiro a chegar ao espaço à nossa camarada Laika.

7/19/2007

MANGAS DE ALPACA


Até podia ser uma forma mais ou menos encapotada de dificultar a coisa. Mas nem isso chega a ser. Fica-se pelo ridículo, pelo mundo decretado por quem não o vive.

O panfleto anexo é a demonstração cabal do espírito de mangas de alpaca, dos adoradores de fotocópias e formulários encartados.

Aliás, toda esta tramitação (palavra linda, não é?!) só fomenta o envelope branco ligeiramente obeso que passa de uma mão para outra num café próximo.

Tudo por causa de um documento amarelo desmaio (enquanto não entra em circulação o novo cu.

Diria mesmo que não há cu que os aguente.

7/17/2007

Quando percebi que Durão Barroso ia chegar a Primeiro-Ministro, inscrevi-me no PS.

Agora que se perfila Luís Filipe Menezes como candidato a líder do PSD e mesmo que hipoteticamente, candidato a Primeiro-Ministro e não podendo emigrar, vou comprar isto

INDEPENDÊNCIA

Helena Roseta foi ontem à Sicnotícias representar a rábula da independência e dos “cidadãos”.

Entende que a vida política não se esgota nos partidos e que as pessoas estão fartas do seu modus vivendi.

Reuniu então um grupo de amigos e concorreu à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa.

Quem quiser ser objectivo não pode deixar de considerar estas declarações como um péssimo exemplo de democracia e não o contrário, como a arq.ª gosta de afirmar.

Helena Roseta ofereceu-se como candidata pelo Partido Socialista. Estava disponível para ser apoiada pelo aparelho do PS. E logo pelo aparelho da distrital de Lisboa, um dos mais vorazes, caciquistas e predadores (só comparável com o inenarrável PS Porto). Estava disponível para as bandeirinhas empunhadas por reformados das Beiras ou do Minho, para os “debates” cirurgicamente preparados para os media, para oferecer canetas e t-shirts. Desde que a sua cara estivesse nas t-shirts e o seu nome nas canetas.

Só concorreu como independente por causa do indeferimento tácito com que Sócrates a brindou.

Depois, reuniu um “grupo de amigos” e concorreu à maior Câmara do País. Por muito competentes que sejam os amigos da Helena (e alguns deles certamente serão), não se reúne um grupo de pessoas em meia dúzia de semanas, amanha-se um programa, concorre-se à Câmara e depois logo se vê…

A malta, os cidadãos, estão fartos de gente impreparada e incompetente, por melhores que sejam as suas intenções. Gente que está sentada nos cafés e de repente se acha capaz de mudar o mundo. Mesmo que o café seja a “Ler Devagar” ou o self-service do CCB.

A Helena pode ter óptimas ideias para além do discurso esquerdóide do pós-25 de Abril.

Podia até ser melhor candidata que António Costa.

Mas ainda não percebeu que a sua candidatura e a sua existência política padecem dos mesmos males que os partidos.

E um dia perceberá que contribui para o descrédito da vida política tanto ou mais que os partidos políticos.

A Helena Roseta nasceu e cresceu politicamente dentro dos partidos. Nunca foi independente. A única razão que a levou a sair foi o despeito.

A curto prazo, as pessoas aderem ao despeito, porque de alguma forma se sentem despeitadas pelo PS.

A longo prazo, esquecem o despeito, e os heróis do despeito tornam-se oportunistas.

Seria trágico que Helena Roseta acabasse rotulada como alguém oportunista e egocêntrico.

Todas as tragédias são pungentes, mesmo quando circunscritas, patéticas e auto-induzidas.


7/16/2007

THE ONE AND ONLY WINNER


Neste afã de contagem de baixas e tiros em porta-aviões, não se repara no único e verdadeiro vencedor das eleições: Gonçalo da Câmara Pereira.

Reparem que o rapaz mal consegue articular uma frase em português minimamente inteligível. Não tem um programa. O Partido que o sustenta tem como presidente um irmão e membros da família espalhados pelos corpos sociais.

É verdade que está longe do estilo e da imaginação dos candidatos à presidência da república brasileira, como Enéas Carneiro, mas a verdade é que nem Herman José, nos seus bons velhos tempos, criaria uma personagem tão bem esgalhada.

Mesmo assim obteve 745 votos.

Mesmo que alguns eleitores tivessem votado nele por confusão com a sigla PPM, pensando que significava Partido do Primeiro-Ministro, ou Partido para Pontapear Mendes, ou ainda Partido do Pedro Mantorras, isso não explica tudo.

700 eleitores votaram no Gonçalo. Isto é uma vitória retumbante para quem não tem máquina absolutamente nenhuma. Tivesse a máquina da Arq.ª Roseta ou do Eng.º Carmona e milhares, quiçá, dezenas de milhar de lisboetas teriam elegido o fadista.
Como o sporting não contratou ninguém; no Iraque o número de mortos não ultrapassou o padrão corriqueiro; correia de campos e mário lino estão de férias; manuel pinho idem; vou ter de falar de umas eleições no concelho de lisboa



Rápidas e curtas:

telmo correia não conseguiria ser eleito para administrador do condomínio, quanto mais para vereador;

o zé faz falta, mas cada vez menos;

o velho cruzador vermelho tremeu, tremeu, mas lá se aguentou;

roseta. está tudo bem, desde que tenha um mic(rofone).

mancha negra. o homem continua com os tiques do tempo em que trabalhava com um martelinho na mão.

ter ar de totó compensa. Fazer de conta que não se passa nada, também. à atenção dos candidatos a político local.

ganhar o totoloto com apostas em quase todos os números. Ainda por cima com um prémio pífio.


o gonçalo fadista teve mais que um voto! sem dúvida que ganhou.

Agora a sério.

Costa ganhou naturalmente, sem grande brilho ou fulgor. Foi esperto, manteve-se calado e sossegado. Telmo Correia não consegue ganhar nada e os seus apelos desesperados aos velhinhos foram patéticos. O Zé começa a ser entediante e este foi mais um aviso para o Bloco. Ruben não quis ou não pôde perceber que atacar o Governo era um mau caminho. À tangente. Negrão foi altivo, petulante, impreparado. Uma nódoa. Negra. Na testa de Mendes que se pôs a jeito. Prepara-se o carreirismo. “Isto” foi só o arranque. Roseta acabou num flop, encostada a Ruben. Com sequências brilhantes como esta: Salas de Chuto? Claro que sim! A ideia de salas móveis é errada. As pessoas têm de se habituar a conviver com os problemas. Mas primeiro é preciso dialogar, falar com as pessoas. Vá a senhora vereadora dialogar com as “pessoas” e propor uma salinha de chuto lá no bairro e aguarde, sentadinha pela resposta. Em materiais de construção. Pontiagudos. Carmona ainda conseguiu os votos que se sabe porque fez o papel de vítima e o portuga adora vítimas, sobretudo quando são vítimas da “porca da política”.

Nenhum dos candidatos soube ou quis marcar a diferença, ser ambicioso sem ser irrealista.

A resposta foi clara.

7/13/2007

LISBOA VISTA DO SUBÚRBIO

Para quem, como eu, mora no subúrbio, a recente campanha eleitoral para a Câmara Municipal de Lisboa foi um puro acto de esquizofrenia.

Os candidatos à Câmara continuam a falar (e presume-se a pensar) como se Lisboa fosse uma ilha isolada no meio do oceano e não apenas um entre 18 concelhos, de uma área onde vivem mais de 2,5 milhões de pessoas.

Apontar “soluções” para o problema do trânsito, do ambiente ou da rede de transportes públicos é pois um exercício inútil, enquanto não se criar uma estrutura de poder político legitimado pelo voto que englobe a AML.

Julgo que o problema é tão grave que nem sequer permite teorizações sobre os benefícios e malefícios da regionalização.

Aliás, por mim podem chamar-lhe regionalização parcial, favas com chouriço ou kleenex.

Desde que criem de vez a porra da estrutura metropolitana.

7/11/2007

Silly Season

Há um blog que eu não deixo de ler (quase) todos os dias e que aconselho:

http://portugaldospequeninos.blogspot.com/

O autor é uma mistura de João Coito e de sucedâneo de VPV. A não perder. Do melhor humor que se faz em Portugal.

7/10/2007

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS


Depois de Mário Lino ter anunciado que a margem sul era um deserto, eis que, após o debate de ontem com os candidatos a Lisboa, o deserto instalou-se definitivamente na margem norte do Tejo.

O completo deserto de ideias. Entre o salvem os velhinhos do sr. telmo e o tom de conversa de tasca do compincha Gonçalo, nada de novo, de verdadeiramente importante, foi dito.

Com uma excepção. Garcia Pereira. Foi o único que demonstrou ter ideias claras e precisas sobre o que quer, o único com uma ideia estratégica para a cidade e para a região.

Estivéssemos num país verdadeiramente civilizado e ultrapassasse Garcia Pereira a cassete marxista-leninista e as coisas seriam bem diferentes.

7/09/2007



É impressão minha ou isto:








está cada vez mais parecido com isto

7/06/2007

Cucurbita Máxima









Tenho isto plantado no Quintal, no meio disto.







Espantosamente fala.

Todas as manhãs me cumprimenta e me pede que a arranque e mande para a Austrália. Está convencida que é Primeiro-Ministro daquele País. E eu a pensar, na minha ignorância de urbano, que a bizarria estava restrita ao reino animal.

Ele há cada planta mais estranha!

Nós já tivemos até uma Beringela nomeada para chefe do governo, se bem me lembro…

Será que a culpa é das culturas transgénicas?

Ajude-me, Eng.º Sousa Veloso

ORGASMO EUROPEU

Anuncia o Correio da Manhã que dois eurocratas protestaram contra o carácter pornográfico de um filme promocional da Comissão Europeia.

Primeiro, é espantoso como é que alguém pode considerar pornográfico um filme patrocinado por uma instituição liderada pelo asséptico José Manuel Barroso;

Segundo, se isto http://www.youtube.com/watch?v=SpXVOE1n-MY é pornográfico, a Jessica Rabbit faz filmes Hard Core que envergonham a Cicciolina;

Terceiro, pela duração da coisa (44 segs.) pode ficar no ar a ideia de que os europeus são, em geral, ejaculadores precoces. Ora, eu autorizo os eurocratas a legislarem ferozmente sobre o tamanho admissível de couves e rábanos, mas no que toca ao sexo sou um ferrenho adepto da subsidiariedade.

7/03/2007

CÍRCULOS UNI QUÊ? NOMINAIS? E ALKA SELTZER OU UM CAFÉ PARA RECUPERAR A SOBRIEDADE, NÃO VAI? (ESBOÇO I)

Um dos maiores logros que se tem tentando introduzir no debate político é a criação de círculos uninominais.

Normalmente tenho bastantes dúvidas e engano-me com frequência.

Sobre esta questão não tenho qualquer dúvida e estou convencido que não me engano.

O principal fundamento de quem defende os círculos uninominais é o da necessidade de aproximar eleitores e eleitos. Responsabilizando os deputados perante quem os elege.

Eu não me sinto melhor representado por alguém só porque esse alguém mora na minha rua, na minha cidade ou no meu concelho.

Os círculos uninominais, na sua fórmula pura, conduzem a uma completa distorção da realidade. Como em cada círculo só é eleito o candidato mais votado, pode ter sido eleito por menos de um terço dos eleitores, mas representa todos eles.

Nós temos um sistema político desequilibrado e autista, em que se passa de uma realidade municipal para uma realidade nacional, sem uma estrutura intermédia que de forma evidente, é necessária.

Está incutida na sociedade portuguesa a ideia que o parlamento é uma Corte, constituída por representadas das diversas zonas do País, ao estilo da Idade Média. Mas não é. É um Parlamento nacional, em que os titulares devem desempenhar o seu cargo pensando numa perspectiva nacional, mesmo quando votam uma Lei que tenham uma incidência geográfica mais restrita.

O que eu quero é um deputado que pense o País como um todo e não um cacique, porque é o caciquismo que se vai promover se os círculos uninominais avançarem. Como foi eleito pelo seu círculo, o deputado em causa sentir-se-á compelido a defender apenas e só os interesses daqueles que o elegeram, sem ter uma perspectiva global do País. Teremos uma Assembleia constituída por 230 representantes dos seus próprios interesses, aumentando a já longa rede clientelar que caracteriza o exercício do poder político.

Preconizo um sistema completamente diferente. Entendo que a melhor solução é um círculo nacional único. Com a possibilidade de os eleitores escolherem os deputados que querem ver na Assembleia. Eu voto no partido A, mas escolho o deputado B, a deputada C, o deputado D, etc..

Assim, posso exigir aos deputados que elegi o cumprimento dos seus projectos, posso acompanhar aquilo que fazem porque sei exactamente quem elegi.

Sem a batota dos círculos uninominais.

Como também entendo que certas questões têm um carácter regional e não meramente local, parece-me obvio que devem ser criadas regiões, com órgãos eleitos.

Afirmar que uma eleição onde o eleitor tem que escolher, para além do partido, os deputados é um argumento de cariz processual que pela sua própria natureza cede perante a substância do problema.

(este texto é um esboço, muito mal estruturado e pouco congruente. Voltarei ao assunto)