5/07/2007

O CACIQUE

Ao longo dos anos tenho apreciado o chorrilho de disparates que os comentadores encartados têm proferido a propósito das mais diversas eleições.

O último grande disparate deu-se nas eleições autárquicas. Pressionados pelo tempo e espaço, que são curtos nos media, a esmagadora maioria dos comentadores considerou que os resultados das autárquicas de 2005 eram um castigo para o PS. Como tive ocasião de explicar (perdoem-me a falta de humildade), não se pode extrapolar para o âmbito nacional resultados locais, que são determinados pela prestação dos eleitos e dos candidatos, sendo apenas marginalmente influenciados pelo ambiente nacional.

O disparate destas eleições é aquele que rotula a vitória de Alberto João Jardim como a vitória do populismo.

O homem terá muitos defeitos, mas não é pelo discurso populista que ganha eleições. Se assim fosse, se os madeirenses considerassem que estavam a ser ilegitimamente lesados, ofendidos, tinha-se levantado uma verdadeira onda de protesto, essa sim de consequências bem mais graves, porque com um fundamento que os próprios entenderiam como verdadeiramente justo.

Assim decorre do nível de abstenção, que pasme-se, é afinal mais elevado que no continente. Quase quatro em casa dez madeirenses não votaram. Afinal onde é que está a onda de indignação?

Aquilo que os madeirenses sabem é que Alberto João é o melhor a sacar dinheiro a Lisboa, que lhes dá directa ou indirectamente empregos e que mantém a ilha num status quo sui generis, adequado ao clima ameno. No seu íntimo, sabem que a Madeira tem um melhor nível de vida que muitas áreas do continente, mas como é óbvio, não querem prescindir do seu bem-estar.

O discurso populista de Alberto João é apenas um fait-divers, um número de circo boçal apreciado como mais uma diversão, porque o portuga (das ilhas ou do continente) sempre teve uma atracção quase infantil pelo bizarro e pelo primário.

Alberto João é uma curiosa mistura de Padrinho mãos largas e de Badaró.

Simplesmente não chega a ser populista, nem tem espaço para o acicatar, para desenvolver um verdadeiro sentimento de injustiça nos madeirenses face a Lisboa.

É apenas um cacique, alguém que distribui benesses e lugares, ao mesmo tempo que apresenta espectáculos de vaudeville para gáudio dos madeirenses. Perdão, para pouco mais de metade dos madeirenses. Sendo rigoroso: apenas um terço dos madeirenses lhe bate palmas.

E essa abstenção sempre crescente é a grande inimiga de Alberto João, mais do que qualquer partido da oposição.

Como o outro senhor que por cá esteve décadas e que nem sequer tinha espessura para ser fascista, sendo apenas um ditador medíocre (e ficam por aqui as comparações), Alberto João não tem espessura para ser um populista.

É apenas um cacique. Anafado, truculento, boçal, mas sempre e só cacique.

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