5/04/2007

DEMAGOGIA E FALTA DE SENSO

Não me interessa, pelo menos para já, discutir a questão da Câmara de Lisboa. Apenas acrescento que a decisão de Carmona Rodrigues não me surpreende e garanto-vos que não tenho fontes seguras e não falo com o homem há para aí...quase 37 anos.

Aquilo que me interessa é aferir se o critério determinado pelo Dr. Marques Mendes é de facto, como alguns afirmam, uma subida do padrão de exigência dos partidos face aos seus autarcas.

Afirmou o Dr. Marques Mendes que o critério geral do PSD era o seguinte: Autarca arguido deve suspender o mandato. Acontece que para além do facto de se ser arguido nada significar, o conceito é meramente formal, isto é, pode envolver indícios tão diferentes como usar o comboio sem pagar bilhete ou praticar actos de genocídio. Corrigiu o Dr. Marques Mendes, referindo que era um critério político, que caso a caso e preenchida a condição de arguido, o partido deliberaria se o arguido deveria ou não suspender o seu mandato.

O Dr. Pacheco Pereira, na sua louvável tendência para defender os oprimidos, questionou se o PS estaria disposto a elevar o seu standard (que é o de eleito acusado não poder concorrer pelo partido).

Acontece que não só não existe elevação do standard, como se corre o risco da demagogia servir como cortina de fumo para o verdadeiro problema.

Impedir alguém de prosseguir o seu mandato só porque essa pessoa foi ouvida no âmbito de um inquérito não é sinal de rigor. Pelo contrário é sinal de falta de rigor.

Eu explico. Quem exige rigor no desempenho dos outros deve ser rigoroso no seu desempenho e perante uma situação destas deve ter todo o rigor em aferir o conteúdo do caso concreto. Ao determinar o critério que determinou, o Dr. Marques Mendes fez impender sobre todos os autarcas do PSD uma suspeição perigosa.

E com esta aparência de rigor, o Dr. Marques Mendes não ataca verdadeiramente o problema de fundo, que tem duas vertentes. A primeira é a de saber se o PSD está disponível para combater o tráfico de influências e números de circo concomitantes ou subsequentes que caracterizam muitas das autarquias do País. A segunda é a de saber se o PSD está disponível para prescindir das contribuições financeiras que têm como contrapartida e resultado o magnifico urbanismo que todos temos que suportar.

Ou seja, o Dr. Marques Mendes criou um pressuposto grave e perigoso, ajudando a aumentar as suspeitas sobre práticas que beneficiam (também) o seu partido, em vez de ser criterioso na escolha dos seus autarcas e em caso de erro, esperar que as instâncias competentes actuem e aí sim, retirar as consequências políticas.

Não se trata portanto de elevar standards, mas de alijar responsabilidades e de facilitar, só para tentar mostrar-se mais impoluto e sério que os outros.

Haja paciência para aturar o surfista alaranjado.

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