MEMÓRIA DE ELEFANTE
Caros leitores,
Vem hoje à liça uma das minhas (recentes) actividades, que se prende com a investigação sobre História. Nessa pesquisa, que me tem levado de biblioteca em biblioteca, de instituto em instituto, descobri uma pequena história que não resisto a transcrever nas páginas do "Triângulo"
:
Era uma vez, há muitos, muitos anos, um belo reino situado na encosta de uma pequena montanha, espraiando-se na margem norte do estuário de um belo rio. Em certa ocasião, chegou a esse reino um jovem mancebo, pequeno no tamanho, mas grande na altivez e decidido nas atitudes, honrando a tradição daquelas terras, onde os jovens varões desafiavam, de mãos nuas e peito aberto, as bestas que dominavam os imensos pastos. Num ápice o jovem tomou o poder e logo concedeu forais, procurando assim repovoar o reino. Apoiado pelos seus apaniguados, que se reviam na sua força interior, o jovem príncipe foi fortalecendo o seu poder e continuou a distribuir foros e benesses, transformando grande parte do seu reino outrora bucólico num imenso emaranhado de altos e monolíticos castelos de betão, onde acorriam milhares de estrangeiros, fascinados pela possibilidade de trocarem as suas modestas casas por um lugar num castelo. Homem de cultura, o outrora jovem mancebo promoveu concursos de gastronomia, onde com aparente satisfação, os seus apoiantes deglutiam aquela que se tornou a iguaria do reino: o sapo vivo. Num pequeno mas populoso condado do sul do reino começaram a surgir vozes em discordância com a política de construção de castelos atrás de castelos, à frente, dos lados, por cima, por baixo. Não se intimidou o monarca com tal aleivosia e ordenou que mais castelos fossem erigidos. Ripostaram os homens-bons desse condado que se estava a tornar impossível estacionar os milhares de carruagens que convergiam para aqueles lados, que os mestres não possuíam academias para ensinarem os jovens alunos nas artes e nos ofícios e que a décima daquele lugar não era aplicada em benfeitorias necessárias àquela população. Despeitado, o monarca respondeu com o desprezo por aquela parte do reino. Por esta altura, alguns dos comensais, incapazes de deglutir os batráquios cada vez mais volumosos, abandonaram a mesa, descobrindo-se então que se alguns comiam sapos, outros comiam iguarias bem mais aprazíveis, num cenário orwelliano. Começando nessa pequeno condado do sul, a revolta foi lentamente crescendo, alastrando-se, entre sussurros e abraços cúmplices, até ao dia em que no decorrer de um torneio que se realizava tradicionalmente de quatro em quatro anos naquele reino, o outrora jovem e garboso mancebo foi derrotado por uma donzela de voz suave mas firme de intentos, que numa estocada, o derrubou do cavalo, com um golpe certeiro na genitália, deixando-o prostrado no terreiro, perante o espanto de muitos, o júbilo de outros e o secreto contentamento de alguns. Chegara ao fim o seu reinado.
Vem hoje à liça uma das minhas (recentes) actividades, que se prende com a investigação sobre História. Nessa pesquisa, que me tem levado de biblioteca em biblioteca, de instituto em instituto, descobri uma pequena história que não resisto a transcrever nas páginas do "Triângulo"
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Era uma vez, há muitos, muitos anos, um belo reino situado na encosta de uma pequena montanha, espraiando-se na margem norte do estuário de um belo rio. Em certa ocasião, chegou a esse reino um jovem mancebo, pequeno no tamanho, mas grande na altivez e decidido nas atitudes, honrando a tradição daquelas terras, onde os jovens varões desafiavam, de mãos nuas e peito aberto, as bestas que dominavam os imensos pastos. Num ápice o jovem tomou o poder e logo concedeu forais, procurando assim repovoar o reino. Apoiado pelos seus apaniguados, que se reviam na sua força interior, o jovem príncipe foi fortalecendo o seu poder e continuou a distribuir foros e benesses, transformando grande parte do seu reino outrora bucólico num imenso emaranhado de altos e monolíticos castelos de betão, onde acorriam milhares de estrangeiros, fascinados pela possibilidade de trocarem as suas modestas casas por um lugar num castelo. Homem de cultura, o outrora jovem mancebo promoveu concursos de gastronomia, onde com aparente satisfação, os seus apoiantes deglutiam aquela que se tornou a iguaria do reino: o sapo vivo. Num pequeno mas populoso condado do sul do reino começaram a surgir vozes em discordância com a política de construção de castelos atrás de castelos, à frente, dos lados, por cima, por baixo. Não se intimidou o monarca com tal aleivosia e ordenou que mais castelos fossem erigidos. Ripostaram os homens-bons desse condado que se estava a tornar impossível estacionar os milhares de carruagens que convergiam para aqueles lados, que os mestres não possuíam academias para ensinarem os jovens alunos nas artes e nos ofícios e que a décima daquele lugar não era aplicada em benfeitorias necessárias àquela população. Despeitado, o monarca respondeu com o desprezo por aquela parte do reino. Por esta altura, alguns dos comensais, incapazes de deglutir os batráquios cada vez mais volumosos, abandonaram a mesa, descobrindo-se então que se alguns comiam sapos, outros comiam iguarias bem mais aprazíveis, num cenário orwelliano. Começando nessa pequeno condado do sul, a revolta foi lentamente crescendo, alastrando-se, entre sussurros e abraços cúmplices, até ao dia em que no decorrer de um torneio que se realizava tradicionalmente de quatro em quatro anos naquele reino, o outrora jovem e garboso mancebo foi derrotado por uma donzela de voz suave mas firme de intentos, que numa estocada, o derrubou do cavalo, com um golpe certeiro na genitália, deixando-o prostrado no terreiro, perante o espanto de muitos, o júbilo de outros e o secreto contentamento de alguns. Chegara ao fim o seu reinado.
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