POR QUE É QUE EU NÃO VOTO EM ANTÓNIO GUTERRES
Enquanto o PSD se entretém com o Prof. Cavaco e o DJ de serviço Santana Lopes, o PS mantém-se silencioso, com a desculpa de que "ainda é cedo". Na verdade ninguém quer fazer a pergunta embaraçosa: vai o PS apoiar o Eng.º António Guterres?
Parafraseando o supracitado Prof. Cavaco: eu não tenho dúvidas. E quando não tenho dúvidas é evidentemente mau sinal. Não tenho dúvidas porque tenho memória e lembro-me perfeitamente do Eng.º António Guterres.
O Eng.º António Guterres chegou ao Poder, por mérito próprio, sem dúvida e teve não o pássaro, mas a gaiola toda na mão. Comprometeu-se com milhões de portugueses e fugiu.
Pela primeira vez no regime democrático o Partido Socialista chegou ao Poder sozinho com um Primeiro-Ministro esclarecido e inteligente. E o trágico da situação é isso mesmo. António Guterres é um homem inteligente e esclarecido, não um tecnocrata com meia dúzia de dogmas mal aprendidos.
Percebeu na perfeição os problemas do País ou como se diz agora, fez o diagnóstico correcto da situação.
Percebeu que o País tinha que investir de forma séria na educação e declarou-se apaixonado. A paixão foi fugaz. Guterres deixou-a entregue a meia dúzia de presunçosos incompetentes que se regeram pelo princípio que enuncia: o menino não sabe ler? Não faz mal. Veja os bonecos que nós vamos contratar os melhores ilustradores do mercado.
E sobretudo alimentou os vícios situacionistas instalados. Passou o tempo a almoçar com "lobbies", inspirado pelo ecumenismo da Terceira Via. Foi incapaz de incomodar os interesses que se degladiam na Saúde, na Construção Civil e Obras Públicas, de tornar justo o contributo que cada português dá, através dos impostos. Com o devido respeito, o Primeiro-Ministro mais parecia um qualquer monarca, desfilando pela avenida, sorrindo à esquerda e piscando o olho à direita, sendo recebido no fim por um conjunto de acólitos que entre palmadinhas nas costas e a outra mão discretamente estendida, elogiavam o seu desempenho. Continuou a engordar a máquina do Estado com despudor e incapaz de alterar comportamentos, só com um custo desproporcionado conseguiu melhorar as condições de vida do País. Porque, sejamos objectivos: nem todos os resultados foram maus. Ajudado pela competência e empenho do seu amigo Ferro Rodrigues (que deixou no pântano) conseguiu criar os fundamentos de uma verdadeira Segurança Social, fez um trabalho ímpar em termos de diplomacia em conjunto com Jaime Gama e libertou o País de grande parte das pinceladas latino-americanas coadjuvado pelo eng.º Sócrates.
No entanto, não teve a coragem política para ir ao fulcro da questão. Achou que era possível mudar sem se mexer nos fundamentos da inércia. Cada vez que um qualquer grupelho fazia uma reivindicação, Guterres mandava-os entrar no seu gabinete, de onde saíam saciados. Em seis anos a Administração Pública não passou a funcionar melhor. Pode ter obtido, eventualmente, melhores resultados, mas sempre à custa de injecções dopantes, nunca de uma verdadeira reforma. E o mesmo se passou noutras áreas.
Pergunta-se: mas o que é que isso tem a ver com a Presidência da República? Tem tudo e não tem nada.
Se achar que o Presidente da República desempenha o papel de um pai, que à lareira dá sermões aos seus filhos estouvados e serenamente se vai deitar, vote em António Guterres. Se pelo contrário acha que o Presidente da República é uma figura fulcral no nosso sistema político e de governo aconselho-o a ponderar bem o seu sentido de voto.
Diz-se muitas vezes que a escolha do Presidente da República se reconduz à escolha da personalidade mais adequada. É precisamente isso. António Guterres revelou uma personalidade sem coragem política, incapaz de afrontar os interesses instalados e cedeu sempre que foi pressionado. Saiu do pântano que ele próprio tinha criado com o ar angelical de sempre, deixando toda a gente a afundar-se lentamente.
Ora, eu não quero um cobarde político na Presidência da República, por muito simpático e inteligente que seja. Ou até por isso mesmo. Logo, não vou votar em António Guterres.
Póvoa de Santa Iria, 21 de Agosto de 2003Parafraseando o supracitado Prof. Cavaco: eu não tenho dúvidas. E quando não tenho dúvidas é evidentemente mau sinal. Não tenho dúvidas porque tenho memória e lembro-me perfeitamente do Eng.º António Guterres.
O Eng.º António Guterres chegou ao Poder, por mérito próprio, sem dúvida e teve não o pássaro, mas a gaiola toda na mão. Comprometeu-se com milhões de portugueses e fugiu.
Pela primeira vez no regime democrático o Partido Socialista chegou ao Poder sozinho com um Primeiro-Ministro esclarecido e inteligente. E o trágico da situação é isso mesmo. António Guterres é um homem inteligente e esclarecido, não um tecnocrata com meia dúzia de dogmas mal aprendidos.
Percebeu na perfeição os problemas do País ou como se diz agora, fez o diagnóstico correcto da situação.
Percebeu que o País tinha que investir de forma séria na educação e declarou-se apaixonado. A paixão foi fugaz. Guterres deixou-a entregue a meia dúzia de presunçosos incompetentes que se regeram pelo princípio que enuncia: o menino não sabe ler? Não faz mal. Veja os bonecos que nós vamos contratar os melhores ilustradores do mercado.
E sobretudo alimentou os vícios situacionistas instalados. Passou o tempo a almoçar com "lobbies", inspirado pelo ecumenismo da Terceira Via. Foi incapaz de incomodar os interesses que se degladiam na Saúde, na Construção Civil e Obras Públicas, de tornar justo o contributo que cada português dá, através dos impostos. Com o devido respeito, o Primeiro-Ministro mais parecia um qualquer monarca, desfilando pela avenida, sorrindo à esquerda e piscando o olho à direita, sendo recebido no fim por um conjunto de acólitos que entre palmadinhas nas costas e a outra mão discretamente estendida, elogiavam o seu desempenho. Continuou a engordar a máquina do Estado com despudor e incapaz de alterar comportamentos, só com um custo desproporcionado conseguiu melhorar as condições de vida do País. Porque, sejamos objectivos: nem todos os resultados foram maus. Ajudado pela competência e empenho do seu amigo Ferro Rodrigues (que deixou no pântano) conseguiu criar os fundamentos de uma verdadeira Segurança Social, fez um trabalho ímpar em termos de diplomacia em conjunto com Jaime Gama e libertou o País de grande parte das pinceladas latino-americanas coadjuvado pelo eng.º Sócrates.
No entanto, não teve a coragem política para ir ao fulcro da questão. Achou que era possível mudar sem se mexer nos fundamentos da inércia. Cada vez que um qualquer grupelho fazia uma reivindicação, Guterres mandava-os entrar no seu gabinete, de onde saíam saciados. Em seis anos a Administração Pública não passou a funcionar melhor. Pode ter obtido, eventualmente, melhores resultados, mas sempre à custa de injecções dopantes, nunca de uma verdadeira reforma. E o mesmo se passou noutras áreas.
Pergunta-se: mas o que é que isso tem a ver com a Presidência da República? Tem tudo e não tem nada.
Se achar que o Presidente da República desempenha o papel de um pai, que à lareira dá sermões aos seus filhos estouvados e serenamente se vai deitar, vote em António Guterres. Se pelo contrário acha que o Presidente da República é uma figura fulcral no nosso sistema político e de governo aconselho-o a ponderar bem o seu sentido de voto.
Diz-se muitas vezes que a escolha do Presidente da República se reconduz à escolha da personalidade mais adequada. É precisamente isso. António Guterres revelou uma personalidade sem coragem política, incapaz de afrontar os interesses instalados e cedeu sempre que foi pressionado. Saiu do pântano que ele próprio tinha criado com o ar angelical de sempre, deixando toda a gente a afundar-se lentamente.
Ora, eu não quero um cobarde político na Presidência da República, por muito simpático e inteligente que seja. Ou até por isso mesmo. Logo, não vou votar em António Guterres.
Nuno Augusto
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