Nessa gigantesca esplanada de café que se chama blogosfera, além dos tele-evangelistas, como referi, surgiu uma outra e curiosa fauna, composta por alguns membros que acumulam: tele-evangelistas liberais.
Falo do que se convencionou chamar “os liberais”. Como a expressão quer dizer tudo e não quer dizer nada, cabe nela um conjunto bem heterogéneo e catita.
Dividem-se em duas espécies. Por um lado temos os púberes que há 20/30 anos eram radicais de esquerda e pululavam pelos “partidos políticos revolucionários” de então. Hoje, já mais crescidotes e bem instalados, berram pelo liberalismo.
Por outro temos os filhos do cavaquismo, que nem sequer perceberam o cavaquismo, limitaram-se a usufruir das benesses do mesmo, rapazes e raparigas diplomados que tendo lido meia dúzia de livros ou pelo menos conhecendo alguém que alegadamente os leu, acham que podem mudar o mundo e as mentalidades. Eu também achava e têm por isso a minha solidariedade. Com uma pequena diferença. Eu tinha 14 anos e era razoavelmente menos inculto que a grande maioria dos liberais que hoje se apresentam na blogosfera.
No fundo, no fundo eu até simpatizo com esta malta. Estão um bocado cansados do imenso centrão. Querem acção, disputa, uma faísca, pelo menos.
Só que a grande maioria gosta de falar do liberalismo (quase sempre económico e quase nunca social) sentada em belas cadeiras pagas pelo erário público, directa ou indirectamente. Fazem estudos inúteis pagos a peso de ouro pelo Zé, esse amigo do José Manuel Barroso. Ou vivem à conta das falhas do sistema (seja do sistema de Justiça, de Saúde ou de Educação).
Para quem se proclama liberal, não está nada mal, não senhor.
Estamos perante um novo PREC, um Processo de Reeducação Em Curso.
Gostava sinceramente que os liberais em Portugal fossem mais do que um episódio passageiro colado com cuspo.
Como não há nem nunca houve qualquer tradição verdadeiramente liberal, o que temos são portugas típicos, a armar ao “estrangeirado”. Conservadores anacrónicos a brincar ao liberalismo, miúdos ainda espantados com a visita ao mundo civilizado que começa em vilar formoso (sem nunca terem percebido como é que realmente funciona) ou simplesmente aceleras fartos de serem multados, todos são liberais. É uma moda.
Um bocado como ser surfista há 25 anos. Não era preciso saber nadar, podia detestar-se a areia e o mar. Bastava usar o cabelo, as missangas e a roupa da tribo.
De facto, os ditos blogues liberais são, tirando uma ou outra excepção, o instrumento que revela a perícia do seu utilizador.
E o retrato não destoa do resto do País: palavras como vacuidade, presunção e aquela dose de ignorância arrogante (basta ver o número de citações de gurus liberais que alguns fazem) que nos caracteriza, encaixam na perfeição.
Mas como sou liberal e acho que todos têm direito à expressão pública, desejo aos meus amigos surfistas de subúrbio, perdão, aos meus amigos liberais agarrados as belas mamas do Estado, as maiores felicidades.
Só espero que daqui a 20 anos não se tornem furiosos defensores da nacionalização da economia e queiram erguer um muro à volta do rectângulo com duas verrugas e nove pérolas (as Berlengas não contam) plantado à beira-mar.
8/08/2007
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