11/11/2004

O PAÍS DOS COMPETENTES


Sempre que alguém é nomeado para um cargo político ou para um alto cargo na Administração Pública (o que em Portugal vai dar ao mesmo), o “apparatchik” situacionista reverbera a mesma frase, com ar sério e grave “É competente.”.

Em 30 anos de milhares de nomeações de “competentes” o resultado não deixa de ser pobre. Claro que existe “o sistema”, “a máquina” ou “o monstro”. Como existe o Papão.

Onde é que fica a responsabilidade dos competentes?

Verificar o percurso de alguns “competentes” da nossa praça seria um interessante trabalho de investigação jornalística. Porque se é verdade que num sistema democrático a principal responsabilidade é simultaneamente de eleitores e eleitos, também não é menos verdade que a utilização e afectação de meios é da competência dos gestores públicos.

Não deixa de ser espantoso que alguém que ontem estava numa qualquer Direcção-Geral (da Agricultura, por exemplo), hoje esteja num Instituto sob tutela do Ministério da Cultura e amanhã apareça numa empresa pública ligada ao sector energético. Alguém acredita que se possa ser competente e conhecedor de Florestas, Museus e Mercados Petrolíferos?

Estou convencido que, observado à lupa, o percurso de alguns desses competentes revelaria um rasto de gestão ruinosa, de emprego para os amigalhaços, de aquisições desastrosas, de opções idiotas, num “cocktail” com um travo obscuro, algures entre o favorecimento pessoal e a corrupção.

Para além dos óbvios efeitos perversos, este estado de coisas conduz a que se rotulem os gestores públicos com adjectivos pouco recomendáveis, o que é injusto para muitos deles.

O político está, pelo menos formalmente, sujeito ao controlo democrático. O actual sistema de nomeação de gestores públicos não. E cria uma classe de intocáveis, que funciona como um corpo, que se vai perpetuando no poder. Quase sempre longe dos holofotes.

Naquele que é certamente um dos países do mundo com mais gestores competentes por metro quadrado, não deixa de ser estranho que o resultado final seja um país de manifestas incompetências a cada canto.



Sem comentários: