10/16/2007

VAMOS LÁ ENTÃO BRINCAR AOS POLÍTICOS (PARTE I)

Luís Filipe Menezes fez referência à necessidade de uma nova Constituição. Fundamentou tal pretensão no facto de a Constituição em vigor não ser moderna e ter preconceitos ideológicos.
Desde logo qualquer Constituição tem normas com carácter ideológico. Se assim não fosse, seria um rótulo de detergente e não uma Constituição. A qualificação de uma ideia como preconceituosa carece de prova em contrário, isto é, da demonstração que essa ideia assenta em pressupostos falsos, o que manifestamente LFM não fez. Se por acaso o que LFM quis dizer se referia às referências ditas “socialistas”, temos aqui um problema científico e penal complicado: o mais provável é que Michael J. Fox tenha raptado Menezes e apontado o relógio para 1975. Todas as revisões constitucionais (quase todas) foram progressivamente eliminando as referências a um estado socialista. Como se demonstra facilmente, a Assembleia da República pode legislar à vontade sem ter de se preocupar com inconstitucionalidades desde que respeite princípios fundamentais que qualquer país europeu respeita.

De igual modo a ideia de acabar com o Tribunal Constitucional é curiosa. Menezes não chega a defender a extinção da função de garantia, porque sendo um rapaz estouvado, gosta de aparecer na fotografia de curso. Transformar o TC numa secção do STJ é apenas a maneira que arranjou de parecer diferente, de dizer algo de novo, ou de aparentemente novo.

Aparecer com um discurso novo é o grande problema de Menezes.

LFM tinha duas alternativas para se credibilizar: ou assumia de vez que o PSD é na sua essência, bastante parecido com o PS, derivando ambos de uma matriz social-democrata, estando a diferença nas pessoas escolhidas e nas políticas concretas ou então apontava um rumo liberal, com a consequente diminuição do papel do Estado.

Só que nenhuma das duas alternativas serve a LFM. A primeira porque não pode. A segunda porque não quer.

LFM não pode assumir essa afinidade com o PS (embora ela seja evidente, mesmo considerando que as franjas de ambos os partidos são bastante diferentes) porque o passo seguinte é o de perguntar quem são as pessoas que estão com o seu projecto, capazes de fazer a diferença e a resposta tem nomes como Mendes Bota e Zita Seabra.

Também não pode apontar para uma via liberal porque isso iria trair o núcleo duro do PSD. O núcleo duro do PSD é constituído por gente que não quer o Estado fora de nada. Quer o Estado para realizar grandes obras públicas que invariavelmente têm essa sinfonia maravilhosa intitulada “obras a mais”, quer o Estado a assobiar para o lado sempre que esticam as mãozinhas marotas para o saco do pai natal orçamental. Se sempre foi assim, o arrivismo cavaquista sedimentou no PSD essa dependência. Se LFM fosse por aí, caía em 2 tempos. Se LFM tivesse coragem de separar as águas, ia na enxurrada.

Aliás, basta ir ao site da CM de Gaia para constatar como o homem é generoso a alimentar o séquito.

Por isso, LFM diz querer redigir uma nova Constituição, abolir o Tribunal Constitucional e mais meia dúzia de lugares comuns.

Como é que o PSD chegou a isto sem dar por nada é outra questão.
Que evidentemente não vai ser discutida nos próximos tempos.

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