10/12/2007

TRIBOS

Nesse mundo mais ou menos obscuro do sindicalismo, falta fazer o relato, a crónica dos últimos acontecimentos. Não estou a falar apenas do episódio da Covilhã. Estou a falar da guerilha que nos últimos dois anos decorreu no interior dos sindicatos da CGTP.
A história começa mais ou menos, quando o Bloco de Esquerda, que nem sequer compreende os seus militantes, procurou alargar horizontes. Tapado o caminho à direita, a intelligentzia do Bloco entendeu que o melhor caminho para sedimentar e crescer seria ganhar espaço nos sindicatos.
Ora, se há coisa que o PCP não suporta é o Bloco. Se há outra coisa que o PCP não suporta é que lhe ataquem instituições satélites, como são, com maior ou menor autonomia, os sindicatos da CGTP, mesmo quando aparentemente são dirigidos por não-comunistas. Por várias razões. Desde logo porque o PCP precisa dos sindicatos para colocar o seu pessoal político, à medida que vai perdendo espaço no poder autárquico. Mesmo a mais histérica dedicação precisa de alimento e nem a perícia de Filipa Vacondeus consegue transformar os volumosos escritos de Lenine em algo comestível. Depois porque faz parte da linha de actuação do Partido Comunista, linha essa aliás assumida, utilizar todos os instrumentos que a democracia burguesa dispõe para fazer passar a sua palavra e ganhar espaço mediático. Se até agora o PC sempre permitiu e de certa forma promoveu a participação de não-alinhados nos sindicatos, até para aparentar independência, sempre o fez no pressuposto de continuar a deter o poder de facto.
O Bloco tinha a clara intenção de ganhar poder de facto dentro do movimento sindical, o que se tornou intolerável para o PCP. Se de qualquer forma esta tentativa era inaceitável, sendo neste momento o Partido Comunista dominado por um núcleo duro de sindicalistas e operacionais, a coisa ganhou contornos de afronta.
O PCP reagiu violentamente e procurou escorraçar o Bloco dos sindicatos. Só que como o PCP é neste momento dominado por sargentos, aptos para a reacção instantânea e primária, mas incapazes de um pensamento sistemático, a reacção foi desproporcional, mais arruaceira do que o costume e culminou no maior flop da história da CGTP, que foi a greve geral de Maio deste ano. Francisco Louçã, encurralado nas cordas, riu-se de alívio e contentamento.
Resultado: o PCP conseguiu manter o poder quase hegemónico dentro da central sindical, mas à custa de uma perda de credibilidade, de um maior fechamento na sua própria concha e do desentendimento com Carvalho da Silva, que desde há um tempo tem sempre um watchdog atrás de si.
Mário Nogueira, dirigente da FENPROF é mais uma manifestação de força do PCP, a caminho de lado nenhum, aliás já esperada. Os dois polícias na sede local caíram que nem ginjas na estratégia delineada.
No entanto, a poeira não afasta a pergunta: como é que parte (presume-se significativa) de uma classe que supostamente devia ser fundamental numa sociedade, se sente representada por alguém que repudia e combate os fundamentos dessa mesma sociedade e tem como objectivo programático estabelecer uma sociedade sem classes, cujas tentativas deram em coisas tão magníficas como a USSR, a Coreia do Norte ou a China?
Como é que existe um professor, que necessariamente preza a liberdade individual, que se sinta representado por quem entende que a liberdade individual é uma falácia burguesa?
Não há humilhação, despeito ou desconsideração que o justifique.

PS: para os amiguinhos mais distraídos, lembro que no regime que Mário Nogueira defende, não há horários porreiros e negociáveis com o amigo do conselho executivo, dinheirinho extra na formação profissional para mudar de popó “every three years”, explicações a fugir ao IVA e todas aqueles pequenos pecadilhos que nós conhecemos, não é?

PS2: vejam os links, sobretudo os que estão em "classe" e "professor"

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