7/16/2008

À DERIVA

Esperava, ou melhor, gostava sinceramente que o PS tivesse à sua direita(?) uma oposição minimamente credível. Não espero do PCP ou do BE qualquer contributo. Para além da questão estrutural destes partidos, acresce que o seu objectivo imediato passa apenas e só pela contagem de espingardas, pela disputa taco a taco pelo "povo de esquerda", leia-se à esquerda do PS, composto por um trágico cocktail de preconceito, ingenuidade, autismo e ignorância.

O conclave social-democrata, posto perante o perigo de dissolução do partido, agiu como sempre: de forma timorata e ciente da impossibilidade de resolução a curto prazo da maior parte dos problemas, deliberou, de forma cobarde e irresponsável, nomear Manuela Ferreira Leite, como o rosto do novo PSD. Manuela Ferreira Leite, a política, que não a pessoa entenda-se, é alguém que formou a maioria das suas opiniões, a sua mundividência, com base num país que já não existe, o país do restaurador olex, do respeitinho e de meia dúzia de manuais escolares com cheiro a bafio. Não conseguiu, como aliás muita gente não consegue, perceber o mundo hoje. Não consegue perceber que a Lisboa das senhoras de cabelo armado, de senhores compostos e de cafés chiques, ufana da sua modernidade de Duarte Pacheco, com polícias sinaleiros, já terminou. A procriação é apenas um sintoma.

Se o mau resultado se adivinhava, a sua dimensão trágica está a ultrapassar todos os limites.

Paulo Rangel entrou no ringue, acarinhado por todos, aqueceu frenético, acelerou em ponto morto e antes de sequer atingir o oponente, embrulhou-se nos próprios pés e caiu redondo. Ontem tentava justificar-se, ainda visivelmente combalido, na SIC Notícias.

Manuel Ferreira Leite continua com a mesma coerência de sempre: voltou a dar um belo exemplo sobre o que pensa da vida e da sociedade. Manuela julga que está a dar aulas a um conjunto de miúdos cábulas e ignorantes e neste contexto limita-se a abordar com leveza, um conjunto de ideias que quer que a pequenada aprenda. Ainda não percebeu que as suas ideias estão desfocadas da realidade, essa coisa cruel que está em permanente mudança. Tudo se resume a um sumário fastidioso e entediante. Aquilo que alguns qualificam de parco é apenas e só estéril.

Prova inequívoca disso mesmo é a crónica de hoje de Vasco Graça Moura, no Diário de Notícias, que tenta transformar o nada de Manuela em algo com a mínima relevância. Nem mesmo Vasco é provido da graça para tal.

Estão todos à deriva.

Cada um com o seu insuflável devidamente preparado para o salvamento, quando o barco se afundar.

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