9/14/2005

POWER RANGERS

A “inteligentsia” nacional tem um certo prazer cínico em comparar Portugal com outros países da União Europeia que como nós, já estiveram na dita cauda. Ciclicamente o país de comparação vai mudando, seja porque deixa definitivamente a extremidade da esfinge ou porque aparece um outro país que, na mente cartesiana de alguns, permite uma melhor comparação. Há 20 anos a comparação era feita com Espanha, ontem com a Irlanda, hoje com a Finlândia e amanhã com a Eslovénia.

Por exemplo, acentuamos, com aquele ar de desesperado e descrença tão típico, que tanto a Irlanda como a Finlândia investiram na educação e na formação profissional por um lado e nas indústrias tecnologicamente avançadas, por outro.

No entanto ninguém esclarece o que é que irlandeses e finlandeses não fizeram.

Enquanto que a Irlanda e a Finlândia gastam, respectivamente 1 e 2% do seu Orçamento em despesas militares, nós gastamos 5%, mas pasme-se, ou talvez não, temos umas Forças Armadas com equipamentos obsoletos. Em termos de P.I.B., nós gastamos 2,3%, enquanto que os irlandeses gastam 0,9% e os finlandeses 2% (www.nationmaster.com e CIA – The World Factbook).

Nem o facto de termos terminado o último conflito militar há pouco mais de 30 anos explica tudo, porque a Finlândia viveu anos e anos com a Mãe Rússia insinuando-se por cima do seu ombro e a Irlanda ainda vive com o problema do Ulster.

Pelo menos desde 1982 as Forças Armadas desempenham apenas o papel que lhes cabe num Estado Europeu e Democrático mas toda a gente continua a assobiar para o lado, quando confrontada com a diferença entre a utilidade para o País e o custo das Forças Armadas.

O mais absurdo é que esta situação, de forças militares sem equipamentos, de quartéis a degradarem-se e com elevados custos de manutenção, é indigna para o País e para os próprios militares.

As Forças Armadas Portuguesas devem ser constituídas por corpos capazes de resgatarem portugueses em casos de conflitos internos noutros países (pese embora o Tratado da União Europeia torne essa missão menos essencial), de protegerem em termos ambientais a costa e de participarem nas missões de paz da O.N.U.. Para isso não são necessários mais de 40.000 efectivos, mas um número muito menor, mas bem equipado e bem treinado.

Não me move nenhum preconceito anti-militarista nem proponho qualquer solução radical. Não basta dizer “Nem mais um homem (ou uma mulher) para as Forças Armadas!”. Por essa via, daqui a 30 anos os equipamentos mais necessários seriam cadeiras de rodas e canadianas.

É sempre difícil alterar uma oligarquia e muito mais ainda uma oligarquia militar e num País como Portugal, não só não é possível fazê-lo rapidamente, como não é desejável. A questão é que não se vê uma estratégia, não se percebe um caminho claro.

Não temos mais guerras, mas continuamos a brincar aos soldadinhos.

O problema é que a brincadeira não é sustentada pelo Pai Natal, mas pelos contribuintes.

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