5/02/2005

EUROPA

A ideia de uma União Europeia começou por ser uma das mais elevadas aspirações que algum dia uma civilização teve, se pensarmos que a História da Europa é também uma história de conflito, de domínio de uns sobre os outros. Numa posição equidistante do fundamentalismo que apaga o mau e releva o bom e do relativismo sem valores, julgo poder dizer que a Europa é a maior referência civilizacional da Humanidade. Continuo convicto que o Estado Social de Direito é o melhor patamar que alguma vez atingimos.

A Comunidade Europeia pretendeu ser uma garantia de segurança e prosperidade, mas a ideia de união dos povos esteve sempre subjacente e graças a uma geração de políticos que conheceu o período anterior à sua formação e o pode assim comparar ao período de prosperidade económica e social consequente, procurou de uma forma perseverante, ir construindo a União Europeia, na convicção de que os povos que a compõem tem uma matriz cultural que resultou precisamente no Estado Social de Direito e nos valores da democracia liberal.

Naturalmente os líderes foram-se sucedendo e aqueles que hoje decidem não têm termo de comparação, porque são filhos do Estado Social e não pais. Por detrás de uma comunicação elaborada está quase sempre uma ideia básica: nós queremos continuar e melhorar o nosso nível de vida. Não há uma referência ao estilo de vida, no sentido de querermos continuar a matriz europeia de civilização, porque o que conta basicamente é o número de bens que posso adquirir. E deste desejo nasce naturalmente a ideia de que temos que ser competitivos, leia-se, que temos a todo o custo que manter o nível de vida. Nunca se tendo vivido em situações em que o nosso estilo de vida é posto em causa (como o fez a II Guerra Mundial) não se lhe dá valor nem se percebe que o nível de vida pode variar, mas que o estilo que nos caracteriza deve ser mantido a todo o custo. Mesmo quando os princípios que regem o nosso estilo de vida signifiquem que o nível de vida pode baixar, em nome daquilo que nos sustenta enquanto civilização.

Estes novos líderes não olham para os mapas como uma consequência da história, mas como uma oportunidade de manter o tal nível de vida, mesmo que isso signifique sacrificar os princípios, dos quais usufruem, mas que não conhecem verdadeiramente, nem nunca viveram na sua ausência.

A Comunidade Europeia criou uma estrutura burocrática que intima e afinal os próprios cidadãos são também filhos do Estado Social de Direito, que querem sobretudo manter o seu nível de vida. Como já tenho afirmado, os políticos não nascem das árvores, brotam da sociedade e são o seu espelho.

É essa sociedade, essa Europa que vai ter que decidir se quer manter, pelo menos no curto prazo, o seu nível de vida e então vai alargar-se para os rios que ainda não secaram, por mais estranhos que sejam, ou vai ter a coragem de arriscar a manutenção da sua civilização, mesmo que para isso implique sacrifício e perseverança.

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