Uma das ideias mais veiculadas sobre os portugueses é a do seu pretenso patriotismo. Diz-se “Nós somos patriotas” e a suposta solenidade do conteúdo dispensa fundamentação.
Sinceramente não encontro qualquer justificação que sustente esta verdade. Não acho que isso seja necessariamente bom ou mau. Há muito que ultrapassei a velha dogmática tanto da esquerda como da direita. Em abono da verdade, sendo assumidamente de esquerda, nunca me reconheci por completo no catálogo obrigatório dos valores de esquerda. Por isso não acho que o patriotismo seja um valor de esquerda ou de direita.
Agora que nós não somos patriotas é óbvio. Cândidos, assistimos ao désir de retourner des nos emmigrants, como se isso fosse uma manifestação de patriotismo. Não é. O que os emigrantes desejam é voltar para a sua terrinha e construir une belle maison. Não conhecem Portugal. São emigrantes. Saíram directamente da sua aldeola para os subúrbios de Paris. O tipo que mais defendeu a nossa cultura (se quiserem preservou a nossa memória colectiva e a nossa maneira de ser) é filho da Arménia (e não estou a falar de uma velha irritante e desconfiada que ciclicamente me chateia). O nosso patriotismo eclipsa-se à entrada do hipermercado ou de escritórios madrilenos. Esgota-se em lamentos sobre a agricultura portuguesa, à hora do telejornal, enquanto deglutimos umas semillas de nuestros hermanos, ou em compromissos de meia dúzia de incultos engravatados que na sua maior parte cresceram à custa de mercados protegidos ou de uma procura patológica. Não vejo nenhum mal intrínseco em comermos batatas espanholas ou em vendermos fábricas a grandes multinacionais. O que não podemos é gritar pátria de manhã e dizer muchas gracías à tarde.
De facto, nós não somos nada patriotas, também porque temos incutido nos genes essa característica do subdesenvolvimento que é a de copiar todo o que nos “cheira” a evoluído, moderno ou civilizado.
5/02/2005
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