5/09/2007

GENTE CIVILIZADA



Ontem não pude deixar de ter como som de fundo, enquanto estudava, o programa de António Barreto.

Subscrevo, apesar de tudo a conclusão (segundo a minha interpretação) do mesmo.

Nós temos acesso à melhor e mais recente tecnologia, gastamos proporcionalmente o mesmo ou mais dinheiro que os países que nos servem de padrão nas actividades de interesse público, mas falta-nos o essencial: gente civilizada.

Por gente civilizada, entenda-se, não quero significar obviamente gente que saiba comer correctamente à mesa, de faca e garfo, ou que se vista de acordo com os cânones de Milão ou Nova Iorque.

Quero dizer civilizada mesmo.

Em Portugal, as corporações profissionais e afins estão ainda no fim da Idade Média, organizadas e vocacionadas apenas e só para defenderem os seus interesses imediatistas, mesquinhos e desligados da realidade. Médicos e enfermeiros, advogados e juízes, professores, polícias, funcionários públicos em geral, empresários, farmacêuticos, a lista é extensa.

Com o argumento de que o seu padrão de vida é o desejável e que são os outros que têm que o alcançar e não eles que tem de recuar, lutam desesperadamente pela pequena benesse, pelo privilégio escondido com o rabo de fora e quando este argumento falha ou é insustentável, alegam sempre que há alguém mais privilegiado (os enfermeiros em relação aos médicos, por exemplo).

Isto não significa que todos os médicos, todos os enfermeiros, todos os juízes tenham esta conduta. Muitos deles são verdadeiros exemplos de cidadania. Só que não são a regra, mas a excepção.

Como dizia o António Barreto (descontando algum populismo), os médicos julgam-se donos dos hospitais, os professores da escola, etc.), numa atitude verdadeiramente corporativa e medieval.

Por isso, reitero o que disse.

Temos tudo para ser civilizados (a localização, a proximidade geográfica, a paz social, o exemplo mesmo aqui ao lado).

Só nos falta o essencial: pessoas disponíveis para se tornarem civilizadas.


Sem comentários: