No fim do ano passado, os comentadores habituais vaticinaram um 2007 de muita agitação social. Chegados quase a meio de 2007, a agitação social resume-se a uma greve dita geral. Depressa entraremos na época de Verão (a silly season já começou, acompanhando as alterações climáticas) e restam 3 meses (que por força do Natal se resumem a 2) para o fim do ano.
Para agitação social convenhamos que é muito pouco. Se quisermos ser objectivos, aquilo que agitou a sociedade, que a fez debater, apresentar soluções alternativas para um problema não foi certamente o objecto desta greve (as políticas do Governo), mas coisas bem mais triviais, como a continuação do treinador do Benfica ou o desaparecimento de uma menor numa estância de férias (que sendo pungente do ponto de vista humano, está longe de afectar a vida de milhões de pessoas).
Isto não é necessariamente bom, mesmo para quem, como eu, entende que de uma forma geral as mudanças que o Governo tenta introduzir são necessárias, razoavelmente adequadas e relativamente proporcionais.
Só que carecem de escrutínio, de debate, de sindicância até. E isso não é feito. Nem será nunca feito enquanto se mantiverem à frente dos sindicatos as pessoas que lá estão, com as ideias que sustentam.
Um cidadão com um mínimo de bom senso que queira ser informado, está, em bom português, lixado. De um lado tem sindicatos que pura e simplesmente não aceitam o sistema, que ao contrário do que tentam passar, não se integram no movimento sindical europeu. Do outro a oposição (não esta oposição em concreto, mas todas as oposições) que de forma demagógica defende hoje o que ontem criticou violentamente e vice-versa.
Veja-se o caso exemplar de Carvalho da Silva, líder da CGTP há 21 anos. Exactamente. 21 anos. Toda a gente fala dos dinossauros autárquicos, do reinado do Dr. Jardim, do Sr. Pinto da Costa, mas ninguém questiona se é ou não um sintoma de vitalidade que há mais de duas décadas Carvalho da Silva se mantenha na liderança. Carvalho da Silva é particularmente esperto, tem a tarimba do combate corpo a corpo, feito de golpes baixos e primários. De uma forma hábil induz regras gerais de casos particulares. É um centralista democrático que defende a democracia de tipo burguês para os outros.
Do outro lado da barricada, o Governo (e todos os governos) não reconhecendo implicitamente a legitimidade substancial destes sindicatos, mas sendo obrigado formalmente a ouvi-los, trata-os com sobranceria na exacta medida da sua legitimidade eleitoral. Simplificando: os governos sabem que muito mais que os partidos, os sindicatos perderam representatividade aos longo dos anos, sabem que se entrincheiraram na função pública, numa atitude cobarde e fácil e que os seus membros são tão carreiristas como os boys dos partidos, mas comem da mesma malga e que o seu discurso radical e anti-sistema acaba por ser uma carta branca para que cada governo actue sem um verdadeiro escrutínio.
Assim, repito, o cidadão com um mínimo de bom senso está lixado.
Veja-se o exemplo da função pública. O governo quer abrir a redoma e pergunta aos sindicatos sobre a melhor forma de o fazer. A resposta dos sindicatos é esclarecedora: não querem simplesmente abrir a redoma. Não põem sequer a hipótese de abrir a redoma.
Como é que se pode negociar com alguém que pura e simplesmente não quer negociar?
Resultado: o governo faz o que bem entende e em resposta (nem sempre racional) abre a redoma sem aviso.
Aliás, Carvalho da Silva reconhece a esquizofrenia da sua (?) posição quando afirma que a greve não é contra o governo, mas “contra as políticas do governo”.
Eu gostaria de ter um sindicato que verdadeiramente sindicasse o governo, que apresentasse alternativas sérias, viáveis e fundamentadas. Que no fundo, desse algum trabalho e obrigasse o governo a ser mais rigoroso.
Com estes homens e mulheres e com as suas ideias, tal não vai ser possível. Com gente como Mário Nogueira (como é que é possível que os professores se vejam representados naquela personagem anacrónica?!!!), ou Ana Avoila não me parece.
A tão falada agitação social afinal é apenas o delirium tremens http://pt.wikipedia.org/wiki/Delirium_tremens de uma minoria há muito doente, que não deu pela queda do muro, pelas transformações sociais, políticas e económicas das últimas décadas e que ciclicamente entra em confusão mental.
Só isso.
Infelizmente.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário