10/25/2005

GNOMOS EM BICOS DOS PÉS

Agora que as Eleições Autárquicas terminaram e que todas as forças concorrentes já tiveram tempo suficiente para as análises necessárias, julgo que é oportuno percebermos os erros que foram cometidos e sobretudo discutirmos aquilo que queremos em termos de poder local.

Há uma análise que é subscrita pela maioria das pessoas: estas foram as piores eleições autárquicas em 30 anos. Não tanto pelos casos terceiro-mundistas que já se conhecem, mas porque de um modo geral, o discurso político foi mau, completamente desligado da realidade, feito de jargão oco e de pseudo-modernidade. Não me parece que a grande maioria dos candidatos (onde aliás me incluo e por isso assumo a mea culpa) o faça por má fé ou dolo. Fazem-no porque individualmente não têm hipótese de mudar o discurso, porque se entra numa corrida sem sentido em que se prometem coisas mais mirabolantes que o adversário. Veja-se um caso típico: um candidato a Presidente de Junta, para ser absolutamente leal com os seus eleitores, pouco mais pode prometer que manter as ruas limpas e cuidar das áreas ajardinadas. Esta é a realidade. Segui atentamente a campanha e vi vários candidatos às freguesias e aos concelhos prometerem a criação de zonas industriais (leia-se uma oficina e um stand de automóveis no meio de um pinhal), o desenvolvimento do turismo, estradas, túneis etc., etc., sem referirem sequer que muitos desses desejos estão para além das suas competências ou poderes. Não há nada de mais ridículo do que vermos discursos que recorrem a linguagens técnicas, quando manifestamente os seus autores não sabem do que estão a falar, nem têm conhecimentos ou habilitações para tal.

Nos próximos quatro anos temos que pensar que gestão autárquica realmente queremos. Temos que pensar se faz algum sentido termos mais de quatro mil freguesias e mais de trezentos concelhos. Estou convencido que não faz nenhum sentido, que não é justo que os contribuintes paguem a manutenção de serviços públicos prestados por Câmaras e Juntas que manifestamente não têm dimensão nem meios para os prestarem, encarecendo o seu preço.

Veja-se o caso do concelho de Vila Franca de Xira. Eu entendo, como princípio de discussão, que não faz sentido termos 11 freguesias. Julgo que 4 freguesias eram suficientes, reunindo Póvoa, Vialonga e Forte da Casa numa, Alverca e Sobralinho noutra, Alhandra, Vila Franca de Xira, Castanheira numa terceira e finalmente as freguesias rurais, Calhandriz, Cachoeiras e São João dos Montes, numa só. Hoje o que temos, com esta dispersão, são serviços exactamente iguais em todas as freguesias (varrição, jardinagem) mas caros e ineficazes, porque muitas das freguesias não têm dimensão para prestarem um serviço correcto e eficiente e por outro lado não prestam aqueles serviços que supostamente deviam prestar e que fazem sentido numa lógica de proximidade, como a Acção Social. As ruas não precisam de carinho, de conforto ou de solidariedade. As pessoas e os seus problemas precisam disso tudo e não podem ser tratadas por um aparelho burocrático e com enxaquecas permanentes. Não há nenhuma razão para não se fazer isto, para além das razões que nos caracterizam como subdesenvolvidos. As pessoas que vivem na Póvoa são as mesmas que vivem em Vialonga ou no Forte da Casa. Toda a gente sabe que não é possível termos forças de segurança, serviços públicos, como os Registos ou as Finanças, ou escolas secundárias em todas as freguesias. Aliás, as 3 freguesias mantêm fluxos diários e regulares de pessoas, bens e serviços.

Enquanto mantivermos autarcas nas grandes urbes com a mentalidade de político de aldeia, não há hipótese. Continuaremos a ser pequeninos gnomos em bicos dos pés.

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