A noite das Eleições Autárquicas foi para mim bastante hilariante, quase o equivalente a uma ganza bem esgalhada (se a memória não me falha).
Desde logo porque em termos pessoais e locais, as coisas correram exactamente como eu estava à espera (à excepção do resultado de um certo partido que se declarava vencedor e acabou por ficar em terceiro lugar) e não como outros esperavam. Os esgares de espanto e surpresa são efectivamente uma fonte de riso inesgotável.
O melhor estava reservado para o fim, ou como dizem alguns, para o rescaldo (a expressão faz-me lembrar comida requentada).
Os doutos comentadores mediáticos apresentaram uma explicação para a derrota do PS: um “cartão amarelo” ao Governo.
Esta explicação é ilógica, não estabelece nenhuma relação causa-efeito e carece de demonstração. Senão, vejamos.
Se o eleitorado tivesse querido mostrar o seu descontentamento perante a política do Governo, os maus resultados teriam sido generalizados. No Norte, no Sul e até no polylon. Ora, não foi isso que se verificou. A premissa que serve de base a esta conclusão afirma que “os maus resultados foram generalizados, excepto nos concelhos onde o valor pessoal dos candidatos minorou os danos”. Tenta-se estabelecer uma relação directa e necessária entre a apreciação do Governo e a tendência de voto local, mas não demonstrando, com factos, essa relação.
A autonomia das eleições e dos resultados locais fica demonstrada quando se verifica que por exemplo, o Partido Comunista obtém, no mesmo Concelho (por exemplo, no caso de Vila Franca de Xira), resultados completamente diferentes nas Eleições Autárquicas e nas Eleições Legislativas, o mesmo se passando com os outros Partidos do espectro político.
Pelos piores mas também pelos melhores motivos, as eleições locais são cada vez mais centradas no candidato e a sua filiação partidária é um factor secundário.
Achar que um adversário é pouco conhecido em termos nacionais, não só não diminui o visado, como também e sobretudo denota que o autor desta afirmação (o candidato do PSD à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira), sendo um cientista político encartado, não percebe objectivamente nada de política.
A maior parte dos portugueses não sabe nem nunca ouviu falar de Maria Emília de Sousa (Já fez programas culinários na televisão? É aquela moça que apresenta os telejornais na SIC? Correu no Paris-Dakar? Apareceu na capa da FHM?), mas toda a gente a conhece em Almada, onde ganhou mais uma vez com maioria absoluta. E sistematicamente o PCP não ganha nas Eleições Legislativas naquele concelho. É preciso dizer mais alguma coisa?
O Portuga, esse animal pouco polido e tosco, pode não ter uma percepção sistemática da realidade, ser avesso a organização e desconfiar de tudo o que é diferente ou novo (ou então ficar embasbacado), mas tem um instinto de sobrevivência que só os menos civilizados possuem e sabe muito bem quem é o(a) Presidente de Câmara que lhe arranja as estradas, que leva os avós ao campo e os putos à praia e mesmo quando isso é feito de forma muito onerosa ou com desbaratamento dos meios, ele não se importa, porque imagina que “alguém há-de pagar”. Portanto sabe muito bem em quem é que vota e não confunde as coisas.
Qualquer extrapolação nacional dos resultados eleitorais é artificial e mesmo os chamados ciclos autárquicos são agregações das quais não se podem retirar grandes ilações.
O Partido Socialista perdeu estas eleições por várias razões e sobretudo na sequência da derrota de 2001. Porque não soube escolher bons candidatos e a prova disso é que muitos dos derrotados socialistas responsabilizaram o governo pela derrota, demonstrando que, de facto, eram péssimos candidatos.
Se isto é tão evidente, porque é que muitos dos comentadores políticos afirmaram o contrário?
Desde logo porque a rapidez da análise é, dado o timing dos media, mais importante que o seu conteúdo. Depois porque a maior parte dos comentadores não faz a mínima ideia do que é que se passa nos mais de 300 concelhos do País e de facto isso é irrelevante ou quase, para a análise nacional. É muito mais fácil e sobretudo mais rápido, dizer que o Governo levou um cartão amarelo, ou que foi penalizado, até porque quem olhar para o País pelo ecrán mágico pode ficar convencido que existe a chamada “contestação social”. Nos critérios dos meios de comunicação social (o tal poder sem sindicância) contestação social é tudo aquilo que faça barulho, ou proteste e fique bem na “fotografia”. Não interessa se a dita contestação não é generalizada, vertical e horizontalmente, se é produzida por uma única federação de corporações profissionais (o funcionalismo público, no qual me incluo, aliás) e se o resto do País, entre os milhões de trabalhadores de serviços (hipermercados, centros comerciais, serviços que funcionem 24 horas por dia) comércio e indústria não se veja contestação. A menos que eu esteja enganado e o conjunto de desempregados à porta de mais uma fábrica do Vale do Ave, enganados e sodomizados a preços abaixo do mercado possam ser metidos no mesmo “saco” de contestação social, o que seria obsceno.
Tenham juízo. E sobretudo vergonha.
Desde logo porque em termos pessoais e locais, as coisas correram exactamente como eu estava à espera (à excepção do resultado de um certo partido que se declarava vencedor e acabou por ficar em terceiro lugar) e não como outros esperavam. Os esgares de espanto e surpresa são efectivamente uma fonte de riso inesgotável.
O melhor estava reservado para o fim, ou como dizem alguns, para o rescaldo (a expressão faz-me lembrar comida requentada).
Os doutos comentadores mediáticos apresentaram uma explicação para a derrota do PS: um “cartão amarelo” ao Governo.
Esta explicação é ilógica, não estabelece nenhuma relação causa-efeito e carece de demonstração. Senão, vejamos.
Se o eleitorado tivesse querido mostrar o seu descontentamento perante a política do Governo, os maus resultados teriam sido generalizados. No Norte, no Sul e até no polylon. Ora, não foi isso que se verificou. A premissa que serve de base a esta conclusão afirma que “os maus resultados foram generalizados, excepto nos concelhos onde o valor pessoal dos candidatos minorou os danos”. Tenta-se estabelecer uma relação directa e necessária entre a apreciação do Governo e a tendência de voto local, mas não demonstrando, com factos, essa relação.
A autonomia das eleições e dos resultados locais fica demonstrada quando se verifica que por exemplo, o Partido Comunista obtém, no mesmo Concelho (por exemplo, no caso de Vila Franca de Xira), resultados completamente diferentes nas Eleições Autárquicas e nas Eleições Legislativas, o mesmo se passando com os outros Partidos do espectro político.
Pelos piores mas também pelos melhores motivos, as eleições locais são cada vez mais centradas no candidato e a sua filiação partidária é um factor secundário.
Achar que um adversário é pouco conhecido em termos nacionais, não só não diminui o visado, como também e sobretudo denota que o autor desta afirmação (o candidato do PSD à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira), sendo um cientista político encartado, não percebe objectivamente nada de política.
A maior parte dos portugueses não sabe nem nunca ouviu falar de Maria Emília de Sousa (Já fez programas culinários na televisão? É aquela moça que apresenta os telejornais na SIC? Correu no Paris-Dakar? Apareceu na capa da FHM?), mas toda a gente a conhece em Almada, onde ganhou mais uma vez com maioria absoluta. E sistematicamente o PCP não ganha nas Eleições Legislativas naquele concelho. É preciso dizer mais alguma coisa?
O Portuga, esse animal pouco polido e tosco, pode não ter uma percepção sistemática da realidade, ser avesso a organização e desconfiar de tudo o que é diferente ou novo (ou então ficar embasbacado), mas tem um instinto de sobrevivência que só os menos civilizados possuem e sabe muito bem quem é o(a) Presidente de Câmara que lhe arranja as estradas, que leva os avós ao campo e os putos à praia e mesmo quando isso é feito de forma muito onerosa ou com desbaratamento dos meios, ele não se importa, porque imagina que “alguém há-de pagar”. Portanto sabe muito bem em quem é que vota e não confunde as coisas.
Qualquer extrapolação nacional dos resultados eleitorais é artificial e mesmo os chamados ciclos autárquicos são agregações das quais não se podem retirar grandes ilações.
O Partido Socialista perdeu estas eleições por várias razões e sobretudo na sequência da derrota de 2001. Porque não soube escolher bons candidatos e a prova disso é que muitos dos derrotados socialistas responsabilizaram o governo pela derrota, demonstrando que, de facto, eram péssimos candidatos.
Se isto é tão evidente, porque é que muitos dos comentadores políticos afirmaram o contrário?
Desde logo porque a rapidez da análise é, dado o timing dos media, mais importante que o seu conteúdo. Depois porque a maior parte dos comentadores não faz a mínima ideia do que é que se passa nos mais de 300 concelhos do País e de facto isso é irrelevante ou quase, para a análise nacional. É muito mais fácil e sobretudo mais rápido, dizer que o Governo levou um cartão amarelo, ou que foi penalizado, até porque quem olhar para o País pelo ecrán mágico pode ficar convencido que existe a chamada “contestação social”. Nos critérios dos meios de comunicação social (o tal poder sem sindicância) contestação social é tudo aquilo que faça barulho, ou proteste e fique bem na “fotografia”. Não interessa se a dita contestação não é generalizada, vertical e horizontalmente, se é produzida por uma única federação de corporações profissionais (o funcionalismo público, no qual me incluo, aliás) e se o resto do País, entre os milhões de trabalhadores de serviços (hipermercados, centros comerciais, serviços que funcionem 24 horas por dia) comércio e indústria não se veja contestação. A menos que eu esteja enganado e o conjunto de desempregados à porta de mais uma fábrica do Vale do Ave, enganados e sodomizados a preços abaixo do mercado possam ser metidos no mesmo “saco” de contestação social, o que seria obsceno.
Tenham juízo. E sobretudo vergonha.
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