A democracia dita participativa tem como uma das regras essenciais a não imposição, pela maioria, de condutas, sem qualquer fundamento, à minoria. Tal manifesta um princípio de prudência e de essencialidade. De prudência porque impor a nossa vontade aos outros é uma decisão que carece de fundamentação racional e de uma ponderação profunda. De essencialidade na medida em que essa imposição só deve surgir nos casos absolutamente necessários e decisivos e não por mero capricho ou devaneio da maioria.
De igual forma, é inaceitável que uma minoria imponha as suas regras à maioria, de forma arbitrária ou que mantenha vantagens sem que elas reflictam uma compensação pelas especiais obrigações ou responsabilidades que assumam.
Ora, no caso dos Professores, é indiscutível que os mesmos são uma minoria, em face dos alunos, dos pais e já agora, da generalidade das pessoas que pagam impostos e que lhes sustentam o estatuto profissional, sem licença (assim mesmo, à boa maneira da burocracia) para emitirem um comentário, uma observação sobre o serviço que lhes é prestado.
Nestas situações a democracia participativa gera um paradoxo, no sentido em que a maioria inorgânica se sujeita aos ditames da minoria organizada.
Este carácter orgânico, permite, desde logo, ampliar a dimensão do grupo e num país onde o exercício de cidadania é praticamente nulo, qualquer manifestação ganha uma relevância bem maior do que a representatividade dos seus elementos.
Aliás, mesmo em democracia, o corporativismo continuou a imperar, como instrumento de imposição da vontade das minorias, perante uma sociedade débil.
Como é impossível exigir de todos os participantes e espectadores uma abordagem séria, serena e racional da questão, e no caso da educação, tal é particularmente difícil dado o monstro burocrático que ao longo dos anos foi construído, o poder político tem dúvidas sobre a repercussão social de uma manifestação minoritária mesmo quando promovida por um grupo enfeudado num estatuto privilegiado (se comparado com a maioria da população) e que não pode ser de todo ilibado do resultado (ou da ausência dele). É a clássica comparticipação criminosa.
É óbvio que tal não determina de imediato a responsabilidade pessoal dos professores. Estes são vítimas e carrascos. Vítimas de um sistema intrincado que transformou os professores nos piores burocratas que conheço. Carrascos porque, por acção ou omissão, não foram capazes de perceber a insustentabilidade do monstro e aquilo que começou com uma resignação, transformou-se em muitos casos em puro autismo.
Não tenho dúvidas que muitos professores têm grandes razões de queixa do Ministério, dos Pais e dos colegas. São exactamente aqueles professores dedicados, que impõem a autoridade necessária com naturalidade, vítimas da inveja e de um sistema que não os recompensa para além do gosto de quem, como resultado do seu trabalho, forma homens e mulheres aptos e em casos mais raros, cidadãos.
Também não tenho dúvidas que do lado do Ministério se cometeram erros e que não se percebeu que a desconstrução do monstro seria um processo doloroso, gerando uma grande contradição, dado que muita gente dentro do Ministério não quer acabar com o sistema montado.
Chegados a este ponto, muitos não querem pura e simplesmente mudar, arriscar, porque lhes foi prometida uma carreira desgastante, mas certinha e sem grandes sobressaltos e arranjam mil e um subterfúgios para justificar tal posição, com uma imaginação e dinamismo que manifestamente não utilizam enquanto docentes.
Formou-se uma espécie de muro, construído de raiva e de medo, cujo objecto só por acaso se chama Maria de Lurdes Rodrigues, que com aquele seu ar anacrónico, exalando sensatez e seriedade, irrita particularmente os professores. Por detrás da Ministra está o verdadeiro objecto de tanta irracionalidade: Pura e simplesmente um espelho que reflecte essa mesma irracionalidade.
Resta ao Poder Político escolher, sem maniqueísmos, o que prefere: a cedência a uma minoria, mesmo que imensa, ou o compromisso com a maioria, mesmo que silenciosa.
3/06/2008
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4 comentários:
Como qualquer patrão do sector privado sabe, não se manda contra TODOS os funcionários. Isso sim é uma minoria a tentar impor-se à maioria. Porque não foram os pais, nem os alunos, nem a comunidade, nem a junta a criar o Novo Estatuto. Aliás se não fosse a habitual tendência nacional para bater em figuras d e autoridade todos estes perceberiam que não têm nada a ganhar com ESTE sistema de avaliação dos professores que cria situações tão absurdas como a que eu prórpia vivo: Sou mais habilitada que os meus avaliadores. Assumam a avaliação tem como único objectivo FACILITAR O DESPEDIMENTO.
O anónimo de cima sou eu
Minha cara,
1º TODOS, como presunção empírica, não serve.
2º Eu não defendi o estatuto, nem esta avaliação.
3º Quando uma parte significativa, por acção ou omissão, se sente representada pelo sr. Nogueira, todo e qualquer argumento cai por terra.
4º Qualquer sistema provoca injustiças e por maioria de razão, um sistema aplicado a uma realidade tão complexa como o ensino.
5º Estou de férias, só agora é que vi o post. Depois respondo com mais atenção.
Beijinhos
Nuno Augusto
Caro Nuno Augusto,
Dada a temática abordada, tomei a liberdade de publicar o seu "post" intitulado:
Regionalização
com o respectivo link, no BLOG
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Regionalização
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Cumprimentos
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