A Educação e em particular a Ministra respectiva têm estado na ordem do dia. Nada disto é novo, porque a educação anda há 30 anos no debate público.
Não vou, como é óbvio, tomar o partido da Ministra ou dos outros (sejam quem eles forem), até porque não há ministra e outros, a divisão é entre os que querem de facto criar uma educação de 1º mundo e os que, pelas mais diversas razões, não querem.
Como não tenho habilitações técnicas, currículo ou experiência para traçar um quadro geral da educação em Portugal e muito menos para apresentar soluções, limito-me a fazer uma reflexão relativa ao espaço onde vivo.
A Póvoa de Santa Iria, a tal cidade que muitos proclamam, tem características que a qualificam como subúrbio o que significa desenraizamento, desagregação e diferimento.
Com desenraizamento quero dizer que as pessoas não se sentem identificadas com o espaço onde vivem, não têm memórias do mesmo porque na sua maioria não cresceram aqui. Identificam-se com a sua fracção, com o seu apartamento. Desagregação significa que ao contrário de outros tempos, as actividades correntes das pessoas são feitas em diversos sítios (dormem na Póvoa, trabalham em Lisboa, divertem-se no Algarve). Diferimento significa que existe um lapso de tempo entre a instalação das pessoas e a criação de serviços de interesse público que, objectivamente diminui a qualidade de vida. Primeiro fazem-se os prédios, metem-se as pessoas, depois instalam-se as infra-estruturas dos serviços básicos e uns anos depois aparecem finalmente os serviços mais básicos (educação, Multibanco, comércio).
Não considero que a educação seja uma panaceia que tudo resolva, mas acho que pode fazer a diferença.
Desde logo respondendo às verdadeiras necessidades das famílias que vivem sob a desagregação que referi anteriormente. Não é uma escola que funciona das 9 às 5 que resolve os problemas. Como também não resolve os problemas cada uma funcionar para si mesma, de costas voltadas para a comunidade em redor.
Um verdadeiro projecto educativo passa por uma estreita colaboração entre as escolas (públicas, privadas e cooperativas), as instituições e associações.
Passa por uma escola que funcione 24 sobre 24. Que aborde matérias com os alunos que digam respeito ao meio onde vivem. Que promova as relações intergeracionais, propiciando o convívio entre os miúdos e os mais velhos. Que ponha os miúdos a fazerem qualquer coisa de útil, para eles e para a comunidade. Isto não é um problema dos professores, é um problema de todos. Deve ser discutido pelas entidades, públicas e privadas que existem na Póvoa. Não pode ser decidido numa reunião de fim de tarde, em que os presentes querem é ir para casa, tratar das suas vidinhas. É necessária uma estratégia que defina o que é que cada uma faz, que reúna meios (financeiros, humanos e logísticos). Um programa que preencha um dia inteiro de cada aluno, de acordo com as suas vocações, sem hiatos. E tudo isto deve ter como objectivo a criação de condições para que os miúdos de hoje sejam amanhã homens e mulheres mais conscientes, mais informados. Só proporcionando estas condições e gerando expectativas nos pais se pode exigir deles uma maior participação e disponibilidade e não ao contrário.
E isto não custa mais dinheiro e basicamente é uma questão de organização e competência.
Qualquer pessoa de bom senso e sem especiais conhecimentos chega a estas conclusões.
Então porque é que não se faz? Pelas mais diversas razões. Porque alguns gostam de exercer pequenos poderes. Porque outros estão tão habituados à inércia que respirando, já deixaram de pensar e porque neste país a ausência de regras e de responsabilidade têm promovido a mediocridade.
8/31/2006
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