Na curiosa fauna indígena, há um bicho muito especial, protegido como poucos. Pilhas e pilhas de decretos, de despachos, impedem a sua extinção. Num clima social onde algumas vozes reclamam a biodiversidade, eis um exemplo de resistência e protecção.
Estou, como é óbvio, a falar do Morcego de Fraque.
Criatura ancestral, descrita desde há muito na literatura especializada, mantém-se praticamente inalterada desde o início dos tempos, embora a sua adaptabilidade possa indiciar o contrário. Numa ou noutra ocasião podem crescer-lhe poderosas garras ou afiados caninos, mas no essencial continua a ser a mesma: invertebrada, primária, comezinha até.
Refugia-se nos pontos menos iluminados dos amplos corredores que se projectam para afirmar a nossa grandiosidade civilizacional, de onde só sai para, no silêncio das suas patas ridiculamente pequenas, morder os calcanhares de quem passa.
Morder manso, quase doce, tem o bicho!
Suga, suga, enquanto beija e à medida que vai trepando nas pernas do hospedeiro, chama os amigos para tal comezaina. Ou então, se ainda é mancebo, novo e inexperiente, trepa sozinho até chegar a sítio mais quente.
Bem se coça o hospedeiro, com a cútis irritada; assim se move o bandoleiro, numa dança bem encenada.
Não sendo criatura de devaneios, se ali já não dá nada, levanta os freios e parte de madrugada.
E que faz a criatura, quando do alheio não se alimenta?
Coisa sem estrutura, muito menos de sebenta.
Arranja fêmea ou macho, em festas catitas
Logo constitui família e em casa recebe visitas.
Perguntará o leitor, deveras intrigado
Onde se avista tal bicho,
Onde come, onde fica o seu nicho
Que nunca viu em nenhum lado?
Nasce todo pretinho, berrando pelo corredor
Mal se aplaca a borbulha, é nomeado doutor
É aí que se dá, fenómeno sem igual
O trafulha passa a excelso intelectual
Pula de escritório em escritório,
Que as fartas formas da República a todos acolhe,
O almoxarife emproado que chega ao parlatório
Ou o incompetente que mais ninguém escolhe
Estou, como é óbvio, a falar do Morcego de Fraque.
Criatura ancestral, descrita desde há muito na literatura especializada, mantém-se praticamente inalterada desde o início dos tempos, embora a sua adaptabilidade possa indiciar o contrário. Numa ou noutra ocasião podem crescer-lhe poderosas garras ou afiados caninos, mas no essencial continua a ser a mesma: invertebrada, primária, comezinha até.
Refugia-se nos pontos menos iluminados dos amplos corredores que se projectam para afirmar a nossa grandiosidade civilizacional, de onde só sai para, no silêncio das suas patas ridiculamente pequenas, morder os calcanhares de quem passa.
Morder manso, quase doce, tem o bicho!
Suga, suga, enquanto beija e à medida que vai trepando nas pernas do hospedeiro, chama os amigos para tal comezaina. Ou então, se ainda é mancebo, novo e inexperiente, trepa sozinho até chegar a sítio mais quente.
Bem se coça o hospedeiro, com a cútis irritada; assim se move o bandoleiro, numa dança bem encenada.
Não sendo criatura de devaneios, se ali já não dá nada, levanta os freios e parte de madrugada.
E que faz a criatura, quando do alheio não se alimenta?
Coisa sem estrutura, muito menos de sebenta.
Arranja fêmea ou macho, em festas catitas
Logo constitui família e em casa recebe visitas.
Perguntará o leitor, deveras intrigado
Onde se avista tal bicho,
Onde come, onde fica o seu nicho
Que nunca viu em nenhum lado?
Nasce todo pretinho, berrando pelo corredor
Mal se aplaca a borbulha, é nomeado doutor
É aí que se dá, fenómeno sem igual
O trafulha passa a excelso intelectual
Pula de escritório em escritório,
Que as fartas formas da República a todos acolhe,
O almoxarife emproado que chega ao parlatório
Ou o incompetente que mais ninguém escolhe
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