7/31/2007

O QUE FAZER COM ESTE PARTIDO? (RASCUNHO)


(Este texto é uma versão ainda não revista)


O PSD é um partido peculiar. Por um lado é um partido à moda antiga, federador de diversas tendências, de um conjunto de pessoas que não se reviam no socialismo trop gauche do PS pós-PREC. No seu seio militam social democratas, conservadores, democratas-cristãos e liberais. Por outro lado é um partido contemporâneo por isso mesmo, pela sua elasticidade ideológica.

A história do PSD deve ser contada lado a lado com a história do PS.

Para que se perceba exactamente a encruzilha em que o partido se encontra hoje e que não se resume a um problema com o seu líder.

Nos primeiros anos de democracia, enquanto o PS se encostou à esquerda democrática, estancando o eventual avanço do PCP, o PSD defendia uma maior iniciativa privada e uma menor intervenção do Estado. No entanto, se hoje analisarmos os factos, rapidamente se conclui que não existia, já naqueles momentos, uma diferença ideológica profunda, antes e só uma diferença de grau.

Mesmo que se defenda que dentro do PSD sempre existiram outras correntes para além da social democracia, a praxis política sempre demonstrou uma social democracia pura e dura.

Deve-se em parte ao PSD (e uma boa parte, diga-se) a actualização das estruturas sociais do País à realidade contemporânea. Em resumo, as bases de uma sociedade social democrata de tipo ocidental foram construídas (também) pelo PSD.

Só que ao mesmo tempo o PS fazia um lento aggiornamento da posição inicial, ou melhor, da sua praxis inicial, enquadrando-a no socialismo democrático (ou na social democracia, o que vai dar praticamente ao mesmo). A terceira via foi só o último sinal desse update.

Curiosamente foi Cavaco Silva que “percebeu”, na forma muito peculiar de perceber as coisas que o caracteriza, ou anteviu o futuro, ao anunciar o “fim” da esquerda e da direita. Descontando a imprecisão, a actualidade prova que Cavaco tinha razão.

A esquerda e a direita não acabaram, mas PS e PSD ocupam o mesmo espaço político e sensivelmente o mesmo espaço ideológico. O PSD, entretido com mais de uma década de poder, não só não se apercebeu do reposicionamento do PS, como pura e simplesmente fez cessar o debate indispensável dentro de um partido em que convive a estrita necessidade do poder para manter a coesão interna, com óbvias diferenças (e incompatibilidades) ideológicas dos militantes.

Como o PSD é um partido de poder e em Portugal poder significa Estado, torna-se inviável e até contraproducente que a ala liberal (passe a ironia) do PSD consiga tomar conta (pelo menos ideologicamente) ou sequer contar para alguma coisa dentro do partido.

O PS canibalizou o PSD. De uma forma cruel. Como a política é hoje personalizada, ou melhor, “pessoalizada”, isto é, é uma política centrada em protagonistas, basta ao PS apresentar um líder mais credível para ganhar. Ou vice-versa.
Claro que ficam de fora as ditas franjas de ambos os partidos. No PS essa “tendência” é actualmente representada por Alegre, agarrado ao PS de 76. No entanto e bem vistas as coisas, as alegadas diferenças, com excepção do esquerdismo retrógado de Alegre, dentro do PS resumem-se a questões de pormenor e de protagonismos pessoais, raramente ideológicos. Confundir isto com pensamento único é tão só errado. As “franjas do PSD têm, por assim dizer, aptidão para criar um verdadeiro partido de direita em Portugal, ou em alternativa, um verdadeiro partido liberal. Em última análise, para criar os dois. Só que isto reduziria o PSD a um Partido minoritário e obsoleto. Ninguém está disponível, pelas boas e pelas más razões, para o fazer. A fusão de ambos os partidos é pura e simplesmente impensável.

Além de que não se chega ao pé de um militante e se diz: o meu amigo desculpe, mas chegamos à conclusão que não existimos e vamos fechar a loja.

O PSD hoje só existe por tradição, por hábito e não por qualquer diferenciação ideológica relevante do PS. Apesar deste absurdo, o PSD não vai acabar, porque os partidos não se resumem a esta “lógica formal”.

Marques Mendes é apenas uma ressaca. Vamos ver se a abstinência não deixa marcas bem profundas e irreversíveis.


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